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Morar fora do Brasil me trouxe uma saudade constante. Meio óbvio, eu sei. Além de enfiar todas as roupas no vácuo pra ocupar espaço nas poucas malas, quando a gente vai pra longe, deixamos toda a vida antiga ‘pra trás’. Amigos. Família. Alguns hábitos e lugares. Sabores… Na real, eu sempre achei meio esquisita essa expressão “deixar pra trás”, porque ela não contempla a complexidade que é viver lá e aqui, mas tem uma parte que faz sentido. Ainda que a gente acompanhe as fofocas do grupo, converse de trabalho, perrengue e tudo mais, aquela antiga vida não é mais a nossa. E também não é mais a de quem ficou. Num dia qualquer, a gente se pega vendo novos amigos nos stories dos nossos amigos e pensa: “caralho, eu não faço ideia de quem são essas pessoas!” Ou então percebe que alguém se mudou, trocou de trabalho, adotou um pet e a gente não acompanhou os bastidores. Porque a vida anda pra todo mundo. E tem coisa que chamada de vídeo e conversar por áudio não resolve, precisa de mesa de bar, cerveja gelada, barulheira no fundo, todo mundo falando alto as coisas mais profundas e as mais corriqueiras.
Eu acho que essa é uma das minhas maiores saudades. Sentar num dia de merda num bar qualquer e só conversar com os meus melhores amigos, reclamar e voltar pra casa mais inebriada de carinho do que de drinque. E eu tenho essa sensação com outros amigos também, ao mesmo tempo que sinto falta daqueles que já viveram anos ao meu lado e conseguem me ler bem, sem precisar de esforço.
Eu sinto saudades dos domingos com a minha família, de tudo que eles cozinham pra demonstrar que me amam, de passar o chimarrão por todos eles enquanto o almoço começa a tomar forma. De entrar em uma livraria e sair carregada de livros que eu não vou precisar me esforçar pra entender as palavras.
Bom, eu poderia ficar listando mil outros itens, mas acho que você já entendeu. Estar aqui é também ter saudades de lá. E, quando lá, também é sentir saudades da minha vida aqui. Talvez emigrar seja carregar uma falta constante, um buraquinho que não preenche completamente não importa o quanto a gente esteja feliz com a escolha que fez.
Essa semana eu fiz aniversário, logo depois do dia das mães, e no domingo tava chorando copiosamente porque queria comemorar elas, eu mesma e todos os outros aniversários que eu perdi. Porque são três anos de datas comemorativas, de natal a aniversário, longe. De despedida de amigos a comemoração de apartamento novo, com foto de todo mundo lá menos eu. Três anos que eu mando meu áudio desejando tudo de bom, que eles se divirtam muito, quando o que eu desejo mesmo é estar lá comemorando com eles.
E esse ano tudo isso me bateu forte. Talvez tenha sido o acúmulo dos anos, talvez eu estivesse mais sensível esse ano. Talvez eu só não tenha diminuído meus sentimentos esse ano, ponto pra terapia. Acontece que eu queria todas aquelas pessoas que mais me amam por perto, me dando abraço apertado. Queria encher um bar com todo mundo e dançar até me acabar, queria café da tarde na casa da minha vó. E se você é uma adultinha, adultinho, adultinhe, sabe que querer não é poder, sobretudo quando um oceano e muitos euros estão envolvidos nessa conta.
Entender que as coisas são como são não me deixou menos melancólica, vendo a saudade como um chororô sem fim. Então li uma frase em um livro que ficou reverberando aqui dentro um tempão. “Na sensação de estar tão grata por ter algo merecedor de saudades.” Repeti mil vezes, marquei com lápis… Quando tava ali à paisana, lavando uma louça, ela reaparecia, baixinho, quase sussurada no ouvido. Algo merecedor de saudades.
Eu sempre pensei em saudade como a falta ou a consequência do afastamento - seja geográfico ou não. O que eu nunca me dei conta que ela também é a comprovação de todas as coisas boas que eu tive a sorte de viver. De todas as pessoas incríveis que eu conheci, trouxe pra perto e mantive na minha vida. Pessoas essas que também queriam que eu tivesse lá e me mandam vídeo quando a minha música toca na festa ou quando lembram de algo que eu disse. Saudade dói, mas é uma dor agridoce, consequência ter sido feliz. De ter vivido coisas boas o suficiente pra guardar na memória e revisitar nas tardes jogando conversa fora ou nas manhãs de domingo em que a gente queria o superpoder de teletransporte, porque só lembrar não é o suficiente.
Pensar nisso trouxe uma camada de poesia pra um sentimento com o qual eu tanto convivo e foi muito bom. Feliz de mim que vivi tantas coisas incríveis, do jeitinho que eu quis, com as pessoas que quis. E que trouxe um pedacinho delas e deixei nelas um pedacinho de mim. E não é nem só vivi no pretérito, né, vivo, viverei, com novas pessoas e lugares, mas, também, com essas mesmas pessoas que eu tanto extraño ou estranho - em português mesmo - não ter por perto.
Além de um alento que só as palavras são capazes de oferecer, porque eu não seria capaz de empacotar essa sensação tão confusa do jeito sucinto e certeiro que o livro fez, essa percepção encaixou perfeitamente com a sensação de lidar pra sempre com o vazio que eu falei no começo do texto. Falta algo porque fui e sou feliz lá, mas também porque tenho sido feliz aqui, de um jeito novo, diferente. Realizando sonhos, conhecendo coisas que eu nem imaginava que seriam possíveis pra mim.
Enxergar poesia na saudade trouxe consigo um conforto pra lidar com o aniversário bem diferente dos de lá, mas com gostinho daqui. Com risadas, novos lugares, conversa até de madrugada, drinque na mão. Com as pessoas que eu amo me celebrando de lá e daqui. Com bolo de aniversário surpresa, coisa que deixou esse coraçãozinho sensibilizado pela distância um cadinho mais leve. Eles também sentem minha falta, pensei. Porque juntos a gente foi e é feliz. E tem presente de aniversário mais majestoso do que esse?
E como já e de praxe nessa nossa conversa, bora pras dicas de hoje?
Final feliz, Emily Henry
Lá vem eu falar de mais um livro de Emily Henry, autora de Loucos por Livros e De férias com você e ambos presentes em outras edições da newsletter ou do meu podcast - inclusive, já ouviu o primeiro episódio? Pois saiba que está um primor, com três livros levinhos pra ler nas férias ou naquele momento que você tá precisando de um bom descanso.
Voltando, sim, lá vem eu. Mas você não pode me culpar: essa mulher tem um talento gigante pra escrever romances gostosos, que falam sobre vários outros temas tão importantes quanto amor romântico. Inclusive, é desse livro que saiu a frase que originou toda a newsletter e uma mudança positiva em mim.
Em Final Feliz, a gente vai acompanhar a história de Harriet e Wyn, um casal perfeito um pro outro, que está junto há 8 anos, noivos, e são A referência de um casal feliz.
Harriet, Wyn e seus melhores amigos vão se juntar para as férias de verão anuais em uma casa de praia, porém, o que os amigos não sabem é que os dois acabaram o relacionamento há 5 meses. Os protagonistas até poderiam contar a verdade, mas a casa para onde todos vão há dez anos está prestes a ser vendida, ou seja, esse é o último verão de todos juntos ali e já há muita emoção em torno disso. Para não deixar a viagem ainda mais triste, eles decidem fingir que continuam juntos, algo que não é nada fácil, dadas as circunstâncias nas quais o relacionamento acabou.
E apesar de a história romântica ser o que nos faz ler um romance kkk, o que eu mais gostei foram outras coisas. Primeiro, ver a história e relação entre as amigas, que criam uma nova família ao se encontrarem na faculdade. A vida adulta vai separando-as aos poucos e esse medo do afastamento faz com que elas finjam que tá tudo bem ao invés de dividirem os perrengues, discutirem quando sentem que algo não tá bem… Não é preciso muito pra saber que isso só vai afastá-las ainda mais, né?
O segundo ponto que eu adoro é que o livro também fala muito sobre encontrar o nosso lugar feliz. Depois de viver uma vida inteira evitando conflito e se cobrando muito em ser a melhor pra compensar os sacrifícios que os pais fizeram por ela, a protagonista se encontra em um colapso total, sem saber quem é/o que gosta/como agir.
Desde pequena, com sua família meio disfuncional, Harriet vai tentando se tornar uma criança estudiosa e boazinha pra que tudo fique bem - algo que muitos de nós, eu inclusa, pode se identificar. E a gente que viveu sabe como isso nos molda a longo prazo. Haja terapia e que bom que há!
O problema é que ao invés de fazer as relações serem melhores, abrir mão de si mesma e não querer incomodar vai causar muita briga, tristeza e a sensação de que ela não se importa com as pessoas. Basicamente, o oposto do que ela gostaria.
Mesmo falando de temas difíceis, Lugar Feliz também é um livro pra passar tempo, gostosinho de ler. Vi muita gente falando que UAU, melhor livro da autora, algo que eu, particularmente, não concordo, mas que vale a leitura, ah, isso vale.
Abbott Elementary, 2ª temporada
Se a primeira temporada da série sobre os professores de escola pública já foi uma grata surpresa e um deleite de maratonar, a segunda está ainda melhor - o que nem sempre é algo fácil de acontecer, especialmente quando o começo foi tão maravilhoso.
Nessa segunda temporada, os perrengues na escola continuam e ficam ainda mais difíceis de solucionar. E a resposta pra tudo isso é o que Abbott tem de melhor: seus professores.
Personagens icônicos como Barbara e Melissa estão ainda mais engraçadas e autênticas nessa temporada, enquanto Janine segue com sua esperança, contraposta pela realidade nada esperançosa que o ambiente oferece.
Na verdade, a série é tão boa que não é justo citar apenas algumas das personagens como icônicas. Todas são maravilhosas e nos fazem dar boas risadas e sentir uma dorzinha no coração ao ver como o ensino público é descreditado e sucateado. Ao mesmo tempo, aquela doçura/esperança de ver os professores tentando fazer o melhor que podem, com as ferramentas que têm, muitas vezes escolhendo caminhos duvidosos, ainda está lá.
Apesar de tocar em assuntos sérios nessa temporada, Abbott Elementary mantém seu humor arrebatador com episódios que fazem gargalhar. O que eles simulam um episódio de Shark Tank é impecável, eu simplesmente perdi tudo. Então fica a dica dessa série que é perfeita pra descansar e receber o fim de semana de outono no conforto do seu sofá.
Pausa pra gente falar de moda: usando tênis esportivo com tudo
Nos últimos meses, por conta do pé quebrado, eu adquiri um conhecimento fashion novo: usar tênis esportivo/de academia com tudo. E não é que deu bom? Pra quem tá querendo ou precisando de uma dose extra de conforto, aqui vai tudo que eu aprendi sobre o assunto encarando o espelho todos os dias. Garanto que tem looks bem replicáveis e teorias bem fáceis de entender e colocar em prática.
Você pode ler o post e conferir os looks clicando aqui.
É isso, nos lemos e ouvimos em breve, um beijo
Marcie
Não tá pronta pra terminar a sua pausa? Esse episódio aqui tá te esperando no Spotify!