Uma mala de férias com uma pitada de desânimo
Entre as expectativas e as redes, caí no golpe de desejar tudo aquilo que não tenho
Oi, como vão as coisas por aí? Por aqui tudo bem, naquele clássico movimento pós-férias de retomar a rotina e tirar alguns planos do papel. Se você me acompanha pelas redes - caso não acompanhe, fica aqui o convite pra passar lá no meu Instagram e TikTok -, já sabe que eu passei a última semana em Maiorca, uma ilha incrível, de água cristalina e tranquila, com paisagens de cair o queixo - ou de transbordar os olhos, que acabaram chorando um cadinho diante de tanta beleza. Eu amei Maiorca e provavelmente vou escrever uma segunda newsletter sobre, que chegará no seu e-mail na semana que vem.
Mas hoje eu vim falar de roupa. Mais precisamente, sobre ter caído num traiçoeiro querer tudo aquilo que não tenho e menosprezar o que já estava disponível no meu armário. Não é algo que me acontece com frequência, então achei que talvez fosse uma conversa interessante de a gente ter, porque eu falo muito sobre versatilidade, me sinto incrível quando consigo achar novos usos pras minhas peças, porém, apesar de tudo isso, sucumbi aos estímulos e encarei minhas roupas com um desdém que elas não merecem. Como os recursos financeiros estavam todos separados para a viagem, felizmente não comprei nada por impulso, mas se tivesse dinheiro sobrando, é bem provável que teria comprado. Você veja o buraco em que (quase) me enfiei.
Eu nunca tive problema com arrumar mala para viajar. Muito pelo contrário. Amo passar pelo armário, tocar os tecidos e escolher as cores, texturas e estampas que irão me acompanhar. Acho super divertido antecipar todas as coisas legais que eu e minhas roupinhas vamos viver, os lugares que vamos conhecer juntas e as experiências novas que vamos compartilhar. Mesmo quando fiz malas pra dois ou três meses, com aquela sensação de que não estava levando o suficiente, amei sentar com um cházinho do lado e todas as possibilidades do meu armário. Sempre foi assim. Até essa viagem.
Viajar para Maiorca significava bastante para mim. Era a primeira vez que eu iria para um destes destinos paradisíacos que só tinha visto em filmes, com sua água azulzinha de um azul que eu nunca toquei e paisagens que nunca vi iguais. Maiorca era o tipo de destino que eu sempre quis conhecer, era a viagem que eu sonhava fazer quando cheguei na Europa e que só foi acontecer agora, quase três anos depois. Essas também eram as nossas primeiras férias de verão na praia, um luxo que eu só fui ter depois de adulta. Então, não é exagero dizer que as minhas expectativas estavam altas - e elas acabaram transbordando pro âmbito do vestir.
Eu acabei idealizando quem eu deveria ser nessas férias. E essa persona não compartilhava o mesmo armário do meu dia a dia. Me imaginei no meio de todas aquelas pedras e montanhas com roupas esvoaçantes brancas plissadas e soltinhas. Umas pulseiras grandonas pendendo nos braços e os dedos cheios de aneis. Uma coisa meio mulher chic vai ao resort, sabe assim? Algo, no mundo das ideias impossíveis, como essa coleção da Valentino que deixei nas fotos, ou numa versão mais real, esse carrinho da Zara que pode ou não ser o meu nunca finalizado kkk.
Não é nem que as roupas que eu queria eram um impulso completo, que só seriam usadas nas férias ou que não combinassem com o meu estilo - uma pergunta que vale a gente fazer sempre que vai comprar algo novo. Eu consigo ver uma vida útil e feliz pra quase todas elas no meu armário, porque já cheguei num lugar de fluência do meu estilo pessoal que me permite separar o que eu acho bonito do que realmente quero ou funciona para mim. O problema aqui é quem é que tem um armário inteiro para as férias? Ou que pode comprar várias peças só para uma viagem ou porque está entediada com as suas próprias coisas? E eu te respondo: muitas, para não dizer quase todas, das pessoas do meu TikTok.
Nos últimos meses, eu vi incontáveis mulheres e garotas fazendo hauls do armário de verão novo delas, desempacotando caixas que, emplilhadas, tinham praticamente a sua altura. Mostrando as peças novinhas a estrear em um destino paradisíaco. Eram infinitas saídas de praia, peças de crochê, vestidinhos esvoaçantes. Nesses 29 anos eu nunca tive saída de praia, porque sempre detestei roupa que só tem uma função. Mas, do mais completo nada, me peguei desejando ter uma. Na verdade, da mais completa repetição, que faz a gente assimilar ideias e desenvolver desejos inconscientes.
Faz algumas semanas que eu gravei um vídeo falando sobre um fenômeno o que alguns pesquisadores estão chamando de Tiktokzação da moda. Com os vídeos cada vez mais rápidos e a quantidade gigantesca de conteúdo, que, muitas vezes, acaba repetindo uma mesma fórmula/tema/estilo, as tendências se tornam ainda mais instantâneas - e saturadas na semana seguinte. Ao mesmo tempo, nos sentimos estimuladas a comprar num ritmo desenfreado, tentando acompanhar o que vemos, sem muito tempo para pensar. Em outras palavras, se todos os dias nos aparece 50 vídeos de gente com roupa nova, o nosso armário de sempre vai parecer monótono. Cada vez mais rápido. É como se nada mudasse por aqui, enquanto por lá é look novo a cada segundo.
Claro que muitos desses vídeos são de roupas que as pessoas vão devolver, receber o reembolso e comprar outras coisas pra manter o engajamento e os seguidores interessados. A gente já está na internet a tempo suficiente para saber que não é vida real, mas uma vida recortada, maquiada, muitas vezes cheia de truques. Mas, ainda assim, é fácil se seduzir ou achar que a nossa vida deveria ser mais como é lá. E foi tudo isso que senti enquanto fazia rolinhos de vestidos que já vesti mil vezes pra colocar numa mochila.
O resultado de tudo isso é que fiquei meio desanimada. Num momento em que eu tava radiante de realizar algo que queria há tanto tempo. Até o plano de gravar os looks da viagem pareceu meio capenga, porque não seria tão perfeito quanto os milhares de conteúdos que apareceram nesses dois meses planejando os roteiros. Agora, me diz o que nessa vida é perfeito?!
Gravei, mesmo que relutante, porque se uma só pessoa encontrar o meu vídeo no “para você” dela e pensar que a mala dela tá ok, que não precisa de um estoque de linho e crochês pra ser feliz e se sentir praiana, já compensou. A gente também pode tentar tornar as redes um pouquinho mais parecidas com o que gostaria de consumir.
Pode ser que seja mais esteticamente prazeroso ver uma série de looks impecáveis. Mas a vida peca. É bagunçada. Tem areia no pé. Um suorzinho no buço. O mínimo de roupa possível pra driblar o calor. E é dessas coisas que eu quero me cercar mais.
No fim das contas, chegando lá, minha mala estava ótima e cumpriu o papel de me vestir de mim mesma em todas as ocasiões. Ainda montei uns dois ou três looks que nunca tinha usado e lamentei bem pouco não ter espaço na mochila para levar uma sandália - outro grande tópico da minha cabeça antes de viajar - porque passei todos os momentos com havaianas no pé. Até quando fui pedida em casamento, de surpresa, eu estava de chinelo kkkk.
Pensando nisso tudo, fiquei com vontade de escrever pra você. Porque existem muitas artimanhas e truques nesse mundinho de estar na Internet, seja você alguém que ama roupas ou não. E se a gente não está atenta, pode se deixar minar. Diminuir. Desanimar. Desejar coisas que não precisa. Ou ser quem não é. Mas tem muita beleza no que a gente já construiu e no que ainda vai construir da nossa maneira.
Assim como foi com a minha mala, a gente pode se surpreender com o que já tem. Podemos nos renovar a partir do que já somos, naquele clichê de olhar mais pra dentro do que pra fora. É batido, mas funciona.
Imperfeito e longe de alcançar as minhas próprias expectativas, aqui fica o vídeo com a maior parte dos looks que usei na viagem.
E não é porque eu estava de férias que não tenho boas dicas para compartilhar com você essa semana.
Meu eterno talvez, Netflix
Comédias românticas gostosinhas de assistir são o meu ponto fraco. Não tem sensação mais confortável do que sentar no sofá sabendo que vai ficar tudo bem no final. É um respiro pra imprevisibilidade da vida, sabe. E Meu eterno talvez, disponível na Netflix, é um desses deleites, com direito a melhores amigos e amor platônico.
O filme vai contar a história de Sasha e Marcus, que eram amigos inseparáveis desde criança. O tempo passa, os dois brigam em algum momento da adolescência e ela vai morar em outra cidade. Sasha se torna uma chef renomada de cozinha, enquanto Marcus continua morando com o pai e trabalhando no negócio da família de manutenção de ar condicionado. Os dois se reencontram quando Sasha volta para San Francisco, depois de 15 anos e, apesar de viverem vidas muito diferentes, sentem aquela reconexão instantânea, típica de amigos, mas acrescentada de outros sentimentos que eles tinham deixado guardado todos esses anos.
Meu eterno talvez é simples, mas fofo e divertido. Os atores estão super bem em seus personagens e possuem uma química facinha de acreditar e de torcer por eles. O filme ainda conta com uma participação especial maravilhosa de um ator muito famoso interpretando uma versão afetada e excêntrica de si mesmo que me fez rir alto. Sabe aquele entretenimento perfeito pra preencher um domingo de tédio? É ele.
Como meu olho tá sempre interessado em um bom figurino, não podia deixar de falar sobre os looks da protagonista. As fotos não são as melhores, mas nos momentos de gala ela está chiquérrima, mesclando o minimalismo das formas com cores de impacto e óculos de grau todos os looks de festa maravilhosos - algo que a gente ainda vê pouquíssimo nos tapetes vermelhos e na vida real mesmo. Amei!
Pra quem se interessou pelo filme ou já assistiu, fica aqui o link pra uma matéria falando mais sobre as subversões sutis de Meu eterno talvez para contar uma história de amor asiático-americana. Eles entrevistam a diretora Nahnatchka Khan e trazem alguns detalhes bem legais. Indico muito ler!
Justiça pela segunda temporada de And Just Like That
Sim, eu sei que em uma edição passada dessa mesma newsletter eu gastei um bom tempo falando mal dos dois primeiros episódios de And Just Like That. E eu mantenho a minha opinião: foi um começo fraco. Porém, a temporada continuou e melhorou consideravelmente, então vim me retratar ou exemplificar como, às vezes, a persistência pode nos trazer coisas boas.
A gente tem bons momentos antes disso, mas a partir do sexto episódio as coisas realmente ganham forma e ficam muito divertidas. O episódio da nevasca é tudo pra mim, grandioso, exagerado, com looks incríveis…
Até a aparição do Aidan eu não odeio. Vendo a forma com que a Carrie se relaciona com ele dessa segunda vez a gente consegue perceber o quanto - finalmente - a personagem evoluiu e amadureceu. Carrie ser tão autocentrada, tão enfiada no próprio umbigo era uma das coisas que mais me faziam não ter quase nenhuma simpatia por ela e seus dramas. Então foi uma grata surpresa.
E falando em surpresa, você não imagina o quanto eu me surpreendi quando o destaque dessa temporada - pra além dos figurinos icônicos da Lisa, que tá sempre impecável - foi uma personagem que eu sempre achei um porre: a Charlotte. Ao voltar pro mercado de trabalho, ela está simplesmente maravilhosa, não sucumbindo aos pedidos e desejos da família, que fica completamente perdida a partir do momento em que ela não está ali para prover todas as necessidades deles, por mais fúteis que essas necessidades sejam.
É interessante porque a personagem sempre foi a que mais introjetava todos os padrões que uma sociedade patriarcal coloca nas mulheres. Então gostei muito de vê-la mais forte, dizendo não, retomando sua carreira e sendo muito boa nisso depois de tantos anos. A conversa que ela tem com o marido quando ele diz estar se sentindo sobrecarregado, enquanto está fazendo o mínimo, é algo que eu imagino incontáveis mulheres se sentindo representadas, porque é uma realidade pra quase todas nós.
E agora um spoiler sem muitos detalhes: o episódio em que Charlotte acha que está tendo um infarto, mas só está chapada… Perfeito nos mínimos detalhes!!! Num resumão, acho que a série está encontrando seu tom, está mais leve, sem tentar forçar a barra. Entretém, mas eventualmente, traz algumas conversas bem pertinentes.
Ai, quanto elogio, né? Mas agora eu vou ter que reclamar! Que personagem INSUPORTÁVEL que é Che Diaz. Podia ser tão mais bem trabalhade, mas no fim fica sendo apenas mais um date lixo, que quer a consideração alheia, mas também é uma pessoa mimada e egoísta. O episódio que elu fala sobre a Miranda no palco é um horror, desrespeitoso, não tem graça e a série resolve esse conflito, que poderia machucar muito alguém na vida real, em minutos, como se não fosse nada.
Eu duvido que qualquer dos meus melhores amigos sentaria num bar e acharia ok um ex falar todas aquelas coisas sobre mim. Duvido mesmo. E que eu própria fosse perdoar porque “ai, é meu trabalho, meu jeitinho kkk“. Sério, vai se foder!
Enfim, gostei da temporada e tô sim animada pra próxima. Quem diria, né? Aparentemente, como dizia a música, quem acredita sempre alcança. E você, gostou da temporada, achou mais ou menos? Me conta nos comentários ou por e-mail que eu vou amar saber.
É isso,
Nos lemos - ou ouvimos - em breve,
Marcie