O dia em que roubaram minha foto e me chamaram de cafona
Desestabilizando a fauna, mas queria mesmo era desestabilizar gente sem noção
Semana passada me chamaram de cafona. Foram lá, pegaram minha foto sem autorização pra usar no instagram, não pediram crédito, óbvio, e convidaram as seguidoras a avaliarem se misturar animal print, meu crime na visão delas, era “normal” ou se “não fazia sentido”. “É só uma brincadeira”, advertia o post. Primeiro eu dei risada, porque é incrível como alguém sempre acha minhas fotos sendo usadas sem autorização ou crédito. Mas um segundo depois, pensei: que cafonice! Porque precisa ser muito autocentrado, muito cafona mesmo pra achar que a sua opinião deveria importar no look ou na vida de outra pessoa.
Sempre me custou muito entender esse rolê de ter um certo e errado numa coisa tão íntima como o vestir. Mais ainda, que alguém sinta que precisa opinar numa coisa que ninguém perguntou. Porque, se você não gosta de algo, é só não usar. A pessoa não vai te enfiar uma saia de zebra e uma blusa de onça no meio da rua contra a sua vontade. Pode seguir a vida, olhar pro que te inspira e deixar o que não te inspira pra trás.
Ninguém precisa amar tudo, achar tudo lindo. Mas essa brincadeira, que a gente já viu em muito programa de tv ou site de fofoca, de colocar um look pra escárnio público pode parecer inofensiva, mas não é. E eu não vou nem entrar no tópico de como o ódio engaja mais nas redes, então elas se acabam se tornando o lugar perfeito pra replicar essa estrutura que não faz bem pra ninguém. Voltando, com esse tipo de “brincadeira”, muitas outras pessoas não vão usar estampas, cores fortes ou qualquer outra coisa que não seja básica, por receio do que os outros vão falar, por não quererem receber aquela encarada esquisita de uma colega de trabalho, familiar, desconhecido ou, sei lá, ser apontada na rua - coisa que já aconteceu comigo.
Acabei perguntando lá nos meus stories, e 77% das pessoas que responderam disseram que a opinião alheia afeta (de um pouco a muito) os looks que elas criam. É por essas opiniões não solicitadas, que as pessoas murcham ou vão se afastando do que queriam vestir por medo de errar. Sendo que errar deveria estar muito mais relacionado com uma roupa não funcionar no seu dia a dia, te deixar desconfortável, apertada, se sentindo esquisita do que com a opinião alheia. Então talvez a gente não deveria dar pro outro um poder tão grande, mas, vivendo em sociedade e querendo pertencer a lugares, eu sei que é difícil.
Pra mim, nunca foi um problema causar incômodo pelo que visto. Pode culpar o treinamento de anos e anos morando em uma cidade pequena, encarando olhares esquisitos pras peças que eu customizava, pra eu usar batom vermelho de manhã, pelas guirlandas de flores no cabelo que eu tentei fazer emplacar ou, simplesmente, pela forma que eu escolhia me mostrar pro mundo. Naquela época, gerar desconforto estético era só uma prova de que eu não era como grande parte das pessoas daquele lugar. E eu não queria ser. Assim, causar estranhamento era um prêmio, que eu ostentava feliz. Sim, eu não pareço daqui.
Isso me deu uma liberdade absurda! Mas também poderia ter causado o efeito contrário, me reprimindo ou me afastando de quem eu queria ser e de como queria me vestir. No fim, fiz o que quis e pude colecionar muitas elofensas e olhadas de olho franzido no decorrer dos anos. Também já passei por alguns assédios em trabalhos “por conta da roupa“. Já fui muito chamada de corajosa pelas minhas escolhas. E realmente talvez seja um caso de coragem sair por aí sem se importar com a opinião alheia, porque tem sempre alguém pronto pra opinar. Mas também é um privilégio, muitas outras pessoas que não sejam brancas, cis e magras como eu, talvez percam oportunidades pelo que vestem ou sejam muito mais julgadas, com retornos bem mais negativos que os que eu recebi/recebo.
O que eu acho importante destacar - e foi o motivo pelo qual eu resolvi te escrever hoje - é que roupa/acessório/maquiagem são as maneiras com as quais a gente se apresenta pro mundo, comunica por fora o que é por dentro. Então esse pitaco “inofensivo/é só minha opinião”, que ninguém pediu, vai tolir alguém de se expressar e isso é triste e sério demais pra passar batido.
Eu não tenho como dizer pra todo mundo peitar o mundo, porque seria muito ingênuo da minha parte achar que todas querem ou podem. Mas também é importante não se deixar virar refém das Claudinhas da Internet - e essa ref só pega quem é ouvinte do Me conte uma fofoca, inclusive, fica a dica de ouvir esse podcast perfeito. A gente não vai agradar todo mundo, mas vai agradar a gente mesma, que é quem mais importa.
E também vai ter muita gente que vai te achar icônica por vestir do jeitinho que veste. Ou vai se inspirar em você pra ser mais ela. Pra cada olhadinha torta, tem alguém que vai brilhar o olho no seu paetê. A gente encontra nossa turma. Ainda bem.
No mais, eu tô aqui, caso cê precise bater um papo ou ver uma dosezinha generosa de cores vibrantes. Espero que esse texto renda algo bom por aí e que cê se sinta mais validada, impulsionada, animada a se vestir de você. Ignorando a voz dos outros, que muitas vezes se torna a nossa voz interna, pronta pra censuar nossa individualidade. É só roupa. Você pode se divertir. E se não ficar tão bom assim, fazer diferente no dia seguinte.
Bora de dicas pra receber mais um fim de semana?
Tiktokzação da moda
Aproveitando que o tema principal dessa newsletter foi moda, aproveito pra deixar um vídeo que gravei sobre como os vídeos curtos, consumidos em sequência, podem afetar o nosso consumo e nos afastar do nosso estilo pessoal. Tema complexo, explicado de um jeitinho simples em 1 minuto e meio. Não é porque fui eu que fiz, mas acho que vale o play. E se você não me segue nas redes, fica o convite: ajudaria muito a enaltecer o trabalho dessa criadorinha de conteúdo. Aqui tá o link pro meu Instagram e pro meu TikTok.
Tá se sentindo sem roupa?
Se você tem se pegado encarando o armário sem saber o que vestir com mais frequência do que gostaria, talvez seja a hora de descobrir qual é o problema. Seu estilo mudou? Tá faltando criatividade? As roupas realmente não combinam entre si?
Eu passei por isso no ano passado e pensei muito sobre o assunto, anotei todos os passos que me ajudaram a reencontrar o meu estilo de vestir para, depois, compartilhar tudinho com você. Então fica a dica de conferir esse post, bem completinho, com possíveis perguntas e soluções pra esse dilema que até pode parecer banal, mas que nos rouba tempo, confiança e paciência.
Ainda não estou morta, Disney Plus
Se você costuma ler essa newsletter, já sabe que eu amo um bom entretenimento água com açúcar, pra sentar no fim do dia com uma tacinha de vinho e relaxar. Eis que a série Ainda não estou morta apareceu pra mim no Twitter e, como boa fã saudosa de Jane The Virgin, taquei o play só por saber que a Gina Rodriguez era a protagonista. Tô ali pelo décimo episódio - ao total são 13 - e é bem gostosinha de assistir.
Não é assim, uau, a série exemplar que vai mudar a sua vida, porém é leve, os personagens são legais, dá pra rir e eventualmente até soltar umas lagriminhas em momentos de fofura. Vamos de sinopse? Ainda não estou morta conta a história de Nell Serrano, uma jornalista que largou a carreira há 5 anos, para ir morar com o namorado no Reino Unido.
O relacionamento acaba e ela volta para os Estados Unidos de coração partido, sem dinheiro e sem carreira, precisando urgentemente recomeçar. Como primeiro passo para retomar a carreira de repórter, a protagonista consegue uma vaga para escrever obituários em um jornal, um trabalho bem diferente do que gostaria. A partir do primeiro dia, Nell começa a ser visitada pelos espíritos dos mortos de quem escreve. Ela vai conversar com eles, conhecer suas histórias e aprender um pouquinho com praticamente todos.
São essas trocas da protagonista com os fantasmas que a fazem evoluir e lidar com suas próprias questões. Os episódios são curtinhos, costumam ter um tema central, então é aquele tipo de série facinha de consumir. Quando você menos percebe, já se passaram vinte minutinhos, a tv tá dando play automático no próximo episódio e você tá mais aninhada no sofá, querendo ficar por ali mesmo.
And Just Like That… a gente se pega pensando: essa série melhora?
Ainda falando de série, a segunda temporada de And Just Like That acaba de estrear. E tá morna que só, viu? Achei de uma preguiça absoluta esses dois primeiros episódios. Pra começar, foi um desperdício total do Met Gala, um dos temas mais Sex and The City do mundo, mas não para por aí. As histórias tão meio insossas, as personagens meio perdidas, os enredos não engajam…
Nem os figurinos tão me causando aquele suspiro bom e esse é um dos únicos motivos pra eu ter não só começado a assistir And Just Like That, mas também pra ter maratonado todas as temporadas de Sex And The City e os dois filmes pela primeira vez durante a pandemia.
Essa é a hora em que eu possivelmente vou ter que te entregar a minha carteirinha de quem gosta de moda, né, mas realmente não sou fã das quatro amigas de NY. Entendo que foi importante pras mulheres, que tem um legado foda, juro que entendo, mas pra assistir em plenos anos 2020 mesmo… Não foi meu rolê.
Então fiquei surpresa por meio que ter gostado da primeira temporada de And Just Like That. Achei que os temas traziam questões que conversam com vivências de mulheres nos seus 50 anos, o cast mais diverso trouxe boas coadjuvantes - antes tarde do que mais tarde, né? Confesso que também foi delicioso ver as protagonistas sendo constrangidas pelo tanto que ficaram pra trás em discussões e pautas que são essenciais nos dias de hoje. Porque, realmente, estar em uma bolha de quatro mulheres brancas ricas não deve te atualizar muito, né?
Eis que depois de uma primeira temporada boa e de um frenesi gigante causado pelos retornos de Samantha - que provavelmente vai aparecer por segundos e numa cena sem interagir com as outras personagens - e de Aidan - que, na minha singela opinião, nem precisava ter voltado, mas vou deixar esse tópico pra outra hora, a segunda temporada vem sem sal, com algumas poucas migalhas pra nos fazer seguir assistindo.
E quando falo das migalhas tô me referindo à cena da Lisa com o vestido vermelho Valentino a caminho do Met, a de Carrie apaixonada por um par de botas vintage em um brechó, enquanto a Charlotte tá sendo apenas INSUPORTAVELMENTE CHATA, e, claro, o momento que ela abre a caixa do icônico vestido de noiva Vivienne Westwood. Foi bonito, um exemplo vívido de como as roupas carregam memórias. Ainda assim, passa rápido e é quase que mal aproveitado, sabe?
Num resumo, não indico. Vim aqui só falar mal, aparentemente. Ao mesmo tempo, serei hipócrita e seguirei assistindo pra ver no que dá. E se você quiser um relato de alguém que seja de fato fã da série , indico muito ler essa news da Thereza Chammas, criadora do blog Fashionismo, que eu acompanho basicamente desde que tive acesso à internet kkk
Bom, eu até ia indicar um livro, mas acho que já temos mais do que o suficiente. Fica pra próxima, então daqui duas semanas eu tô de volta na sua caixa de entrada pra gente pausar e papear.
É isso, nos lemos ou ouvimos em breve.
Um beijo,
Marcie.
Sempre aquela mesmice de patrões, nunca entendi bem esse lance de moda. Sempre usei o que quis e sei que recebi aqueles olhares julgadores.Já tive esse lado: Ah, será que vão gostar? Na verdade quem tem que gostar é tu, sábias palavras de meu pai. Gente sem noção é dose! Adoro teus looks, linda como sempre. A gentalha que lute! Kkkkkkkk