Dicas para o seu feriado ou pausa mais próxima
Tudo que eu assisti, li e, na hora, pensei em compartilhar com você
Eu ando atrasada. Não no relógio, longe de mim. Eu sou (e me orgulho de ser) uma mulher pontual. Só de pensar em estar muito atrasada já me dá um siricotico imediato. O meu atraso é com esse nosso cantinho. Já passaram bem mais de quinze dias desde a nossa última news - na qual eu falei um pouco sobre os três anos morando fora do Brasil - recebi retornos muito bonitos, então vale a leitura caso essa edição tenha passado despercebida pelos vários e-mails que cê recebe todos os dias.
E como o tema “morar fora“ rende muito assunto, a news passada ficou gigante e eu prometi voltar em uma outra edição trazendo só dicas gostosinhas, tudo aquilo que eu li ou assisti e lembrei de você. Pois a hora chegou - e tem momento mais oportuno para isso do que uma véspera de feriado? Inclusive, que inveja, viu?!
Vamos às dicas?
Retratos fantasmas, Kleber Mendonça Filho
Com licença, com licença, já vou começar com um filmão! Filmaço! Eu não sabia muito o que esperar de Retratos Fantasmas, mas sou apaixonada por tudo que já vi do Kleber, então tentei ao máximo encontrar uma sala de cinema pra assistir aqui em Barcelona. Até que encontrei um cineminha de bairro com uma só sala e um bar super cool (Zumzeig é o nome, caso cê pretenda passar por aqui no futuro. Já bora marcar um café caso aconteça, hein?). E que bom que eu o fiz porque Retratos Fantasmas é feito pra ver num telão, na companhia de outras pessoas. Pra sorrir junto das ironias, pra se emocionar com todas aquelas histórias que a oralidade e o cinema conseguem contar e eternizar.
Nesse documentário/ensaio, Kleber vai tratar de temas que já estão em outros dos seus filmes, como, por exemplo, a especulação imobiliária tão marcante de Aquarius, também vai mostrar os bastidores e referências que usou em suas obras (destaque para o cachorro de O som ao redor), vai falar das suas origens, da sua casa, que também virou um cenário/personagem, e de como o que a gente conhece e quem a gente é vai ditar muito do que a gente vai produzir.
Sobretudo, Retratos Fantasmas vai falar de cinema, mais especificamente, dos cinemas de rua de Recife, esses lugares majestosos e ao mesmo tempo populares, que faziam parte do espaço público e que foram tão fundamentais para que muitas pessoas (Kleber incluso) se apaixonassem por cinema. O tempo passa (e a passagem do tempo é um dos temas principais desse filme), o centro da cidade muda e todos os antigos cinemas são fechados. Se tornam fantasmas do que um dia foram. Fadados à memória de alguns. E talvez, em tempos nos quais tudo passa tão rápido e tanto cabe em um vídeo de 20 segundos, a gente esteja mais propenso a esquecer.
Retratos Fantasmas traz uma nostalgia fácil de se identicar com. Essa saudade que acompanha a decadência dos espaços que a gente costumava habitar e/ou amar. Os cinemas, os mercados do bairro, os restaurante familiares… Tudo aquilo que era especial e hoje provavelmente dá lugar a uma farmácia, um prédio gigante ou uma igreja.
“Eu amo o centro do Recife, tem um clima de quem foi abandonado sem grandes explicações”, diz o diretor em uma parte do filme. Eu pensei muito no centro de Porto Alegre, enquanto latinos de outros países que estavam com a gente lembraram dos centros das suas cidades. Me pareceu um sentimento meio universal no fim das contas, uma mescla de carinho, de amor, mas também de melancolia. E o mix entre esses três está muito presente no filme.
Seja ao remontar os cinemas que já não existem, uma cidade que mudou muito ou pessoas que estiveram nesses espaços e talvez poderiam ser esquecidas, o Retratos Fantasmas é excelente em mostrar o poder que o cinema tem de fotografar o tempo e eternizar memórias e histórias.
Em um resumão, lindo demais, saí do cinema com o coração quentinho de quem sabe que viu algo especial. Fiquei até um tempo calada, enquanto tava todo mundo comentando na mesa do bar, porque precisei absorver aos poucos. E depois de pensar bastante sobre e escrever essa recomendação, te digo que Retratos Fantasmas é uma experiência bonita de se ter.
Trailer do filme, caso cê ainda não tenha visto. Eu li que o Retratos Fantasmas já está disponível na Netflix Brasil, então vale checar.
Esta ambición desmedida, C. Tangana
Ainda no universo do cinema e dos documentários, no finzinho de outubro estreou esse filme sobre o disco “El madrileño” e a turnê Sin cantar ni afinar, do C. Tangana. Até hoje sou viciada nesse disco, então tentei - e não consegui - ingressos para a estreia. Fui no dia seguinte ao lançamentoe e honestamente não estava esperando tamanha comoção: a fila estava dobrando a esquina e, como se fosse o Norvana espanhol, Pucho conseguiu reunir todas as tribos; jovens, senhoras, grupos gigantes de amigos, casais… Os aplausos e gritos eram constantes na sala. Assim como as palminhas para acompanhar o ritmo da música. Experiências que a gente só tem ao sair de casa e dividir o espaço com outros desconhecidos - talvez eu esteja monotemática de “vamos para o cinema”? Talvez. Mas não tem como ser diferente.
Mesmo que não seja na telona - não encontrei nenhuma info sobre estreia no Brasil -, Esta ambición desmedida é um ótimo documentário para todos os amantes do disco de 2021, que trouxe uma mescla de rap com ritmos tradicionais, como o flamenco, artistas consagrados e um Tiny Desk no qual muita gente - eu inclusa - poderia morar. Confesso que estava esperando que o documentário fosse ser mais sobre o processo de criar esse disco e conceito. No fim das contas, esse tema passa rápido e o documentário foca mais na turnê.
Eu tive a sorte - ou a garra, porque persegui o bonito em Portugal e Espanha, enquanto ele cancelava festivais, trocava datas kkk - de assistir ao show ao vivo e foi uma coisa incrível. De levantar os pelinhos do braço, uma vibe tão boa, um show tão grandioso com tanta gente no palco e uma estrutura planejada nos mínimos detalhes que parece um filme ao vivo. É uma captura muito competente dessa atmosfera do Tiny Desk, com mesa farta, drinques passando e todos os cantores que apareceram no vídeo fazendo a turnê com ele. E é esse processo de criar o show e todos os vários percalços a partir daí que vamos ver no documentário.
Entre uma turnê que C. Tangana nem queria fazer, seu pavor de palco e, segundo ele e sua mãe, sua falta de talento pra cantar - piada que inclusive deu nome à turnê “Sin cantar ni afinar” -, o documentário traz as vulnerabilidades do artista de um jeito honesto, pero sem perder a piada. É leve, divertido, cheio de música e de, como o próprio título revela, essa ambição desmedida por um perfeccionismo.
Se El Madrileño foi um disco revolucionário e icônico, as ambições de C.Tangana eram criar um show que estivesse à altura. Vão ser mais de cem pessoas envolvidas, uma orquestra, todo um roteiro para fazer o show parecer um filme, centenas de milhares de euros de prejuízo, muitas discussões e um azarão incrível que vai de machucados a tempestades torrenciais que fazem shows serem cancelados.
Entre viagens, bastidores, ensaios e promessas de que “turnê nunca mais”, vemos um artista que alcançou uma projeção absurda nos últimos anos lidar com a pressão de estar à altura das expectativas - as suas e as dos outros. E não é nada fácil. Uma cena dele, depois de um show gigante em Madrid, reclamando de tudo que deu errado ao invés de comemorar, ficou martelando por aqui um tempão.
E aí seja porque você gosta do disco, de música em geral, de fofoca, de bastidores, recomendo muito assistir.
Um conto de fadas perfeito, Netflix
Vamos ignorar o título que é meio cafona e focar em que temos uma série de romance levinha e fofa. Inspirada no livro de mesmo título, escrito por Elísabet Benavent, mesma autora de Valeria, Um conto de Fadas Perfeito vai contar a história de Margot e David.
Margot é herdeira de um grande grupo de hotéis de luxo, tem um noivo belíssimo e uma vida aparentemente perfeita, até que, em uma crise de pânico, ela foge do seu casamento antes de a cerimônia começar. Já David vive no sofá de um casal de amigos, tem vários empregos e está sem rumo, muito mais por medo de se comprometer com algo a longo prazo do que por não ter ideia do que gostaria. Os dois vão se encontrar por acaso e se tornar aliados para esquecer seus exes. E aí, se você é letrada no universo dos romances, já sabe onde isso vai dar.
Achei a série bem divertida, eles vão pra Grécia em um determinado momento, então temos essas paisagens maravilhosas… O par romântico da protagonista é um fofuxo, as irmãs dela são ótimas…
Se você está procurando uma série pra almoçar ou acabar o dia relaxando, Um conto de Fadas Perfeito é perfeita. São só 5 episódios, então dá para maratonar tudo junto também se quiser em um feriadinho de preguiça… Eu particularmente não gostei do final, porque fica clichê em demasia para o meu paladar, mas vida - ou entretenimento - que segue.
Solitária, Eliana Alves Cruz
Para finalizar as dicas, venho com esse livro que foi, sem dúvidas, uma das minhas melhores leituras de 2023. Solitária é um acontecimento, uma leitura obrigatória. E por mais que eu pudesse ficar te escrevendo por horas, gravei um vídeo resenhando o livro que pode ser muito do seu interesse.
Quer um resuminho antes de clicar no play? Uma panorama bem completo do nosso complexo Brasil a partir da história de uma empregada doméstica que vive na casa da família para quem trabalha e sua filha, que vai olhar pra toda essa situação com olhos atentos. Fiquei obcecada nesse livro, me inspirou a escrever, falei sobre ele na oficina de escrita que estou participando e para qualquer outra pessoa que me pediu dica nesses últimos tempos.
O resto está dito aqui no vídeo. Bora conferir?
Aproveitando o momento, fica o convite de se inscrever no canal, é rapidinho e super importante para mim :)
Eu ainda tinha uma outra dica, mas essa newsletter já está gigante! Então fica para a próxima - que já tem tema pensado e data planejada para chegar até você!
É isso, nos lemos em breve.
Um beijo,
Marcie.