Como aumentar o repertório de moda e jogando dominó com as roupas
Diquinhas práticas e algumas reflexões sobre encontrar o seu estilo
Tem algum tempo que eu ando com uma preguiciiiinha de criar looks pra usar em casa, algo que não acontece quando eu tenho algum compromisso ou fim de semana despretensioso na rua. O problema é que eu passo grande parte da semana nessas quatro paredes e tava sentindo falta de me sentir bonita nas minhas roupinhas. Me pegava olhando os looks do ano passado - período em que eu já tomava meu café da manhã montada - com saudosismo. O que aconteceu com a criativa que me habitava? Resolveu só aparecer nos fins de semana?
Então fiquei pensando nos motivos: seria pura e simples preguiça? É o resultado de três anos de home office + aulas online? Ou será perdi a tração, depois de ficar um tempo sem exercitar? Bingo! Quem recebe meus e-mails desde o comecinho dessa newsletters (ou maratonou a versão em áudio no Spotify), sabe que nos últimos meses, eu acabei trancada em casa de pijama todo dia com um gesso e duas muletas como acessórios, enquanto 90% do meu armário tava encaixotado em um storage, então pode-se dizer que eu perdi a prática.
E vestir envolve prática? Sim, principalmente se a gente quer desenvolver um estilo nosso, uma forma de vestir que traduza e abrace a nossa personalidade, os nossos desejos, a nossa rotina e as nossas referências. Exige muita prática. E experimentação. Tentativa e erro. Repetição do que funciona. Exige até uma palavrinha que meio que se esvaziou nos últimos anos: autoconhecimento.
Pra conseguir traduzir em forma, cor, estampa e modelagem quem a gente é, precisa passar a superficialidade e mergulhar um cadinho na gente. Encontrar o que nos deslumbra, o que nos desbunda, o que nos faz sentir a gente. Parece um trabalhão.
Eu sei que seria muito mais fácil eu te dizer que pra resolver o problema da preguiça de se vestir (muita gente me disse que também compartilha desse sentimento) é só comprar uma peça x ou copiar os looks de tal pessoa ou investir no quiet luxury, tendência que mal chegou e eu já espero que vá embora, porque não tem coisa mais ultrapassada do que dar moral pra rico babaca de camiseta neutra custando milhares de dólares. A gente volta pra uma dinâmica da moda bem esgotada, que é tentar parecer com os ricos, pertencer a esse universo, quando estamos muito longe disso.
Indignações à parte, é mais fácil pensar que vestir (ou viver) tem fórmula. Porque a gente se acostumou a querer tudo pra ontem. E refletir leva tempo. Um tempo que a gente sente que não tem. Mas será que na pressa a gente não perde uma parte importante do processo? O tal clichê da jornada ser mais importante que o destino? Será que ao não entender quem a gente é e o que gostamos, não fica mais fácil pra um monte de marca, influencer e anúncio nos atochar de coisas que a gente nem queria e muito menos precisava?
Ainda que custe um pouco do seu tempo e dedicação, a autonomia de se vestir de si mesma é poderosa. Faz a gente se sentir mais confiante, mais vibrante, mais exuberante. Mais confortável. Além de tornar o processo de se vestir todos os dias mais natural e intuitivo. Porque o que tá ali naquele armário te representa, então o ponto de partida já é sucesso.
Mas precisa exercitar. E se essas três palavrinhas assustam em um primeiro momento, pode ficar tranquila. Encontrar o seu estilo também envolve diversão, abrir espaço pra criatividade, pro lúdico, buscar referências no Pinterest, mas buscar mais ainda dentro de você o que você quer com esses looks, como é e quer ser/parecer.
E não tem jeito único de fazer isso. Começa olhando pro armário, se pergunta o que você gosta. Mas também vale se inspirar em lugares inesperados. Eu, por exemplo, resolvi jogar dominó com as minhas roupas
Sim, o jogo de mesa mais clássico das tardes chuvosas na praia foi o meu ponto de partida pra exercitar a criatividade e tentar criar looks na última semana. E foi muito divertido jogar com as minhas peças.
As regras do jogo eram claras - e baseadas num tipo de conteúdo de revista que eu amava, que mostrava justamente como as peças podiam ser mais versáteis e render diferentes looks: o look do dia seguinte precisava conter uma peça do dia anterior.
Nada muito complexo, concorda? Então bora dar uma olhadinha em como essa semana funcionou e o que rendeu.
Look 1: monocromática e monoestampada
Eu sou uma mulher comprometida com meus desafios pessoais. Talvez um pouquinho competitiva. Então já comecei a semana estreando essa belezura de look inteirinho em xadrez vichy verde. Se você tirar dois segundinhos pra reparar, perceberá que até o brinco tá na mesma estampa/cor.
O meu briefing era algo confortável, pra trabalhar de casa. Ao mesmo tempo, que fosse lindo de viver, pra fazer evaporar o meu marasmo estilístico. Então, quando vi as estampas iguaizinhas, percebi que tava impecável demais pra não mergulhar nelas da cabeça -quase - aos pés. Bom, se você não tem essas mesmas peças - e é bem difícil ter, já que ambas são de brechó - uma boa dica pode ser combinar estampas da mesma cor, com fundos parecidos OU variações da mesma estampa em diferentes tamanhos - um poázinho e um poázão, um mix de florais e assim por diante.
Look 2: atrasada sim, mas com um lindo look de verão
Eis que no dia seguinte eu tinha menos de dez minutos pra me vestir e gravar o look - sim, eu postei todo o processo dos looks lá no Instagram e no TikTok - então precisava de praticidade. E de conforto nos pés, porque tinha uma longa caminhada até a aula de espanhol e, depois, de volta pra casa.
Escolhi repetir a bermuda como peça de impacto e, considerando a falta de tempo, descomplicar o resto. Tem peça mais descomplicada que uma camisa branca? No meu armário não. Uso com tudo, em qualquer estação e sempre que quero um look chic - na minha concepção, tá, a sua pode ser diferente. Senti que as coisas ainda tavam meio insossas, então trouxe o cinto largo, o óculos vermelho e a bolsa de palha gigante pra apimentar.
O resultado ficou fofo, com carinha de retrô e tenho certeza que nunca teria montado essa combinação se partisse do zero, sem a obrigação de repetir a bermuda.
Look 3: Me perdi no calendário e fazendo uma calça rosa funcionar na marra
Apesar de o foco da semana ser os looks de trabalho em casa/outras coisas na rua, eu também tinha um show previsto e queria muito usar uma peça específica ao lado dessa calça rosa. Eis que no meio da correria eu calculei mal e achei que o show era mais pra frente, que teria tempo pra trazer a calça rosa em um outro look e, então repeti-la no show. Só que me confundi e tive que enfiar a calça rosa nesse look aqui, repetindo a camisa branca do dia anterior.
Claro que usar uma camisa branca não é um desafio tão grande, mas o jeito que eu trouxe os acessórios é o que fez a diferença. Porque uma cor forte como o rosa pode dominar o look muito fácil, deixando o branco em segundo plano. A minha ideia foi trazer outros acessórios em tons neutros ou frios, como o colar branco e o sapato prata, pra equilibrar mais a balança e acho que super consegui.
Misturar uma peça colorida com outra neutra é uma ótima forma de trazer mais cor pros looks de trabalho ou ponto de partida pra quem quer começar a se aventurar pelo mundo das cores.
Look 4: Look de festival
Calça rosa inserida no nosso jogo, pra coroar esse momento lindo que se chama: ver show de graça. Fomos pro Primavera Sound assistir Jake Bug e senti que a ocasião era a perfeita pra tirar esse top de laço do armário - queria ter usado no meu aniversário, mas tava frio demais para tal.
A minha motivação pra unir as peças eram suas cores próximas (lilás e rosa), que trariam harmonia pra uma montação que já tinha tons vibrantes e uma modelagem espalhafatosa. Amei o resultado e quero replicar com um coque baixo e salto alto pra uma festinha/jantar especial.
O que cê pode pegar disso tudo? Duas coisas: A primeira é que trazer peças festivas pro dia a dia ao lado de outras mais casuais ou de um bom tênis é um ótimo caminho pra testar coisas novas. A segunda é que um look monocromático ou com tons parecidos é certeiro pra usar cor de um jeito mais equilibrado ou palatável pro olhar.
Look 5: Uma blusa laço chamando atenção na tarde Barceloneta
Bom, se o top era o protagonista do look anterior, nada mais justo pra elevar a criatividade do que tentar explorá-lo pela segunda vez, agora num look diurno pra andar bastante pela cidade em dia útil.
Aqui vale destacar que eu não me importo nem um pouco em ser ponto de referência ou estar “exagerada“ pros olhos de quem me vê, porém, queria um lookinho que parecesse bem despojado, divertido, menos montação, sabe? Chequei o que eu tinha de partes de baixo disponível com o top do lado até que escolhi essa saia de zebra soltinha. Ok, funciona, principalmente com os acessórios certos, todos nessa pegada mais divertida. Tem bolsa puffer que parece uma nuvenzinha, tênis com cadarço amarrado na canela e óculos colorido.
Eu achava que o look do show ia ser meu preferido da semana, mas não é que esse aqui chegou prometendo nada e entregando tudo, indo diretamente pro meu top 1? As surpresas que ir além da zona de conforto proporcionam.
Look 6: Tudo sobre as cores
Aqui eu já tava com uma preguicinha, sobretudo por conta do alcance PAVOROSO das redes justamente numa semana em que eu tava me dedicando tanto pra entregar conteudinhos. Mas nem por isso deixei de seguir repetindo e recombinando minhas peças.
Como é possível perceber, a saia de zebra foi a nossa peça reutilizada. E aí, como eu gosto muito de looks coloridos, pensar nas cores é um caminho que sempre funciona quando eu empaco na hora de montar novas combinações. Explico: olhei pra saia branca e preta e pensei: putz, eu amo essas cores com tons cítricos. Então encarei o armário com o olhar focado nesse tipo de peça, até que apareceu o top bicolor lilás e verde. Amei na hora.
Pensar o que cê gosta, por exemplo, contraste de modelagem ampla + justinha, uma peça básica outra chamativa, cores, texturas, estampas, pode ajudar muito a ir mais direcionada escolher os complementos. Pensar em uma peça primeiro e depois ir escolhendo tudo em torno dela, é outro caminho pra se aventurar.
Look 7: toda semana temática tem seu fim
Eu vou começar dizendo que amei fazer essa semana e que montei 7 looks que nunca tinha usado, todos com peças que eu já tinha no armário - só por essa versatilidade já seria sucesso, né, mas sinto que me senti mais motivada a dar conta do dia a dia graças ao que tava vestindo.
Pro último dia, repeti o cropped bicolor e resolvi me jogar no color block total, trazendo um bloco de vermelho pro look já bem colorido com essa saia que eu AMO. A gente tava indo pra um museu, então queria conforto no pé e isso pra mim significa: tênis. Bolsinha de palha também vermelha pra finalizar, com pouca modesta, o que foi uma semana bem divertida e criativa por aqui.
Significa que vou fazer de novo? Talvez. Mas, sobretudo, que a gente às vezes precisa fazer as coisas de um jeito diferente, ampliar o olhar e se colocar disponível pra tentar e testar outras coisas. É assim que a criatividade aflora. No vestir e fora dele.
Quer mais?
Outras dicas que funcionam pra refrescar sua relação com o armário é tentar criar um look que você nunca usou antes ou pesquisar referências no Pinterest de um jeito mais analítico, entendendo o que você gostou naquela montação (foi a cor, o tecido, a modelagem, os acessórios, a mistura daqueles itens em si?).
Se inspirar pelas cores/estampas/texturas que estão ao seu redor, seja na natureza, arte, livros ou até nos ingredientes do seu almoço, pode ser outro ponto bem lúdico de partida. Eu te conto mais sobre como fazer isso aqui!
Se a questão parece mais séria ou você sente que não tem nada pra vestir com mais frequência do que gostaria, eu te indico ler esse post, feito com muito carinho pra ajudar quem está desconectada do próprio armário.
Temos tempo para uma dica bem rapidinha?
Queer Eye, 7ª temporada
Seguindo no tema de como o que a gente veste influencia na nossa confiança e percepção, a minha dica, caso cê ainda não tenha maratonado, é assistir a nova temporada de Queer Eye. É sempre um deleite como essa série consegue trazer tantas histórias tristes e bonitas, de pessoas que são verdadeiros heroes na vida real, de um jeito leve, respeitoso e muito especial.
Não consigo nem elencar o meu episódio favorito, é lindo de ver e eu queria te pedir pra prestar atenção no olhinho das pessoas quando elas se enxergam com as roupas novas que o Tan tá sugerindo e que combinam com a personalidade, gostos, estilo delas.
Vestir pode ser transformador. Bora abraçar isso!
É isso, nos lemos em breve.
Um beijo,
Marcie
Mundinho look 5 aqui!!!! Amei demais essa news <3