Quando praticamente tudo dá errado
A gente chora até ouvindo Zeca Pagodinho ou finge que tá tudo bem?
Oiii, como cê tá? Eu tô mais ou menos, pra ser sincera. E sei que quem responde a uma pergunta banal dessas já jogando os problemas nos outros não é alguém tido como agradável. Mas vou conferir um cadinho de crédito pra nossa relação e pular as formalidades.
A verdade é que novembro foi um mês horroroso - e que bom que tá acabando, oficialmente, hoje. É meio inacreditável, mas só na primeira quinzena do mês, eu:
1. Fui informada que precisava sair do apartamento que morava no período de 15 dias.
2. Tive que buscar um lugar novo (que na verdade vão ser duas novas casas provisórias até dezembro), encaixotar tudo, separar o que vai, o que fica, pra onde vai… Isso sem falar nos ônus financeiros desse giro todo.
3. Quebrei o pé num lugar mega chato de recuperar, segundo os médicos, bem no meio da mudança, e tô de repouso forçado pra não precisar de cirurgia.
4. Depois de gastar um dinheirão com todas essas etapas, a Booking ainda fez o favor de trancar o pagamento do apê temporário número 1, cancelar nossa reserva e só vai devolver o valor em 12 dias úteis (hoje é o 13º dia e adivinha se a bonita me pagou?), tudo por um erro do sistema deles.
5. Estou literalmente, enviando e-mails diários pra proprietária do nosso apartamento devolver os nossos dois cauções e a gata tá fazendo de conta que nada tá acontecendo.
Num resumo do resumo, perdi grande parte da estabilidade, em questão de dias.
Fiquei sem minha casa, sem as minhas coisas, justamente no momento em que precisaria do máximo de conforto e aconchego. Recalculei a rota e os novos planos já se tornaram obsoletos graças ao repouso forçado. Então tem sido muito. Tudo ao mesmo tempo. Sem a rede de apoio que sempre me segurou com maestria.
No meio disso tudo, abençoados sejam os livros, os chás quentinhos, os bordados… Os gatinhos dormindo ao meu lado, as taças de vinho no fim do dia. As comidas quentinhas e abraços quentinhos. Mas, na verdade, é um saco. E me custa muito reclamar sem fazer contraponto, porque me sinto sendo ingrata com a vida, sabe? E longe de mim. Podia ser muito pior, eu penso. Mas podia ser um pouquinho melhor também, né?
Foi nessa dicotomia que me peguei pensando: será que a gente não precisa, de vez em quando, admitir que tá tudo uma bela bosta? Abraçar essa frustração por um tempo e deixar doer um pouco, antes de colocar os nossos melhores anestesiantes pra jogo?
A gente, como sociedade, sofreu muito nos últimos dois anos e meio - se for brasileiro então, nem se fala. Foi tudo muito triste. Muito intenso. Muito grande. Mas será que isso tudo nos tirou um cadinho da possibilidade de considerar nossos dramas pessoais dignos daquela chorada boa, até esvaziar o peito? Eu não tenho uma resposta definitiva. Mas eu só me autorizei sentir um monte dessas coisas quando vi as reações de outras pessoas a essa energia do caos que tem sido a minha vida recente.
Enquanto tava o desconforto só aqui dentro, eu tava tentando amenizar. Porque “acontece”, claro que acontece, mas será que uma parte de mim não pode detestar que aconteceu? Não tô falando em virar uma nuvem cinza 24h por dia, mas aceitar os momentos que incomodam.
Talvez essa dificuldade em validar sofrimentos seja algo meu pra sobreviver aos últimos anos. Talvez mais gente se sinta assim. Então, mais do que um boletim sobre o meu status, queria reforçar que faz parte se deixar sentir o ruim. Também, que dor nem sempre tem alguma coisa pra nos ensinar não.
Ainda assim, como o ditado diz, depois da tempestade virá a bonança. Porque tempestade não dura pra sempre. Quando ela acaba, a gente lida com os cacos, reorganiza a bagunça e segue. Até que, num domingo qualquer, se pega sorrindo na cozinha de casa, recebendo amigos.
Eu tinha muitas expectativas pra esse fim de ano. Poucas ainda podem acontecer, mas a maioria já era. E aí vem a frustração. Mas o tempo passa - ainda que arrastado. E não conseguir fazer agora não significa não fazer nunca.
Então que venha a árvore de natal em fevereiro, numa casa que já não seja temporária, com os biscoitos de gengibre que esse ano eu ia aprender a fazer. O inverno tardio com chocolate quente entre as mãos e meus casacos preferidos finalmente por aí, zanzando entre feirinhas de rua. Os encerramentos e começos de novos ciclos. As despedidas e apresentações que me esperam num futuro próximo.
Espero não ter te deixado pra baixo com esse texto. Mas nada é 8 ou 80, a gente pode tranquilamente dar espaço pra se cercar do que nos faz seguir adiante e, ao mesmo tempo, não ignorar o hoje. Esse tem sido o meu exercício. Encher o olho de lágrima ouvindo Zeca Pagodinho cantar “Quando a gira girou” e depois dar risada de um romance bobinho ou do meu gato usando sua nova coleira de crochê.
Update surpresa, um dia antes de liberar a news: meu pezinho tá curando tão lindamente que tirei o gesso hoje. Ainda são mais 15 dias de pé pra cima + readaptação de 1 ou 2 meses depois disso. Mas eu tô feliz, com perspectiva. Chorando enquanto o sol entra na janela do uber e ouço Camila Cabelo cantando uma música sobre superar um término no rádio - talvez eu esteja desenvolvendo um hábito de chorar em músicas improváveis? Talvez.
Así es la vida, sí,
Yeah, that's just life, baby,
I was barely standing, but now I'm dancing
Não é que eu esteja dançando, mas abrindo espaço para celebrar o que esse coraçãozinho sente, seja bom ou não.
É isso, um beijo e até a próxima :)
Marcie