Aprendendo a me localizar e viajando parcialmente sozinha
Esse ano eu tô me desafiando a mandar embora algumas coisas que viraram minhas, mas que eu não queria que fossem
Eu sempre fui uma pessoa geograficamente perdida. De um jeito tão genuíno que beira o cômico. Já me perdi dentro de shopping mais vezes do que posso contar. Quando finalmente me mudei pra outra cidade, passei os primeiros meses saindo pro lado errado do mercado do novo bairro e me dando conta cinco ou dez minutos depois. Quando eu ainda só saía com o Ícaro, bem antes da gente namorar, fomos jantar no Outback, eu fui no banheiro e não encontrava mais a mesa. Sim. Dentro de um restaurante. Eu simplesmente não fazia ideia de onde a gente tinha sentado, até que vi uma mãozinha acenando pra mim de longe. Ufa!
Sempre que eu compartilho esse tópico com alguém, a pessoa tende a achar que eu não presto atenção no caminho, mas que, se prestasse, ia ficar mais fácil. E aí eu dou um sorrisinho amarelo porque não consigo explicar a ansiedade que ser uma perdida de natureza me causa, o quanto eu passo e repasso o caminho antes de sair, mas no meio, me confundo. E se entro uma rua errada… Já perdi toda a parca confiança que tentei acumular. “Já tentou seguir o google maps?” você pode me perguntar, como já me perguntaram. Minha querida, eu já me desentendi com a versão vire à direita, vire à esquerda do GPS.
Não precisaria dizer muito mais que isso pra você perceber que essa inaptidão é um saco. Apesar de render boas histórias na mesa do bar, é um empecilho dos grandes no caminho da gatinha livre, leve e solta que eu gostaria de ser.
Eu já pensei muito sobre onde essa minha falta de conexão geográfica veio. Talvez dos mais de vinte anos morando numa cidade em que nada mudou de lugar e permanece a mesma, mesmo que eu já não esteja mais lá. Talvez eu não tenha desenvolvido porque não precisava. Talvez seja só uma falha no meu sistema operacional. Já encontrei até um diagnóstico online, a Desorientação Topográfica do Desenvolvimento. Em algum momento das tentativas frustradas e de demorar muito tempo pra guardar os caminhos do cotidiano, eu aceitei que eu era assim mesmo. Que ser perdida fazia parte da minha personalidade.
Mas será que a gente não consegue mudar as coisas que nos incomodam na gente mesma? Essa foi a pergunta que eu fiquei me repetindo um montão de vezes e que virou pauta na minha terapia. Eu não tenho uma resposta final pra te dar, mas mudar o que já é nosso - seja nosso mesmo ou não - passa pelo desconforto. Que é um lugar no qual eu tô me obrigando a estar esse ano. Quem sabe não seria esse um tema pra uma outra newsletter, hein?
E eu não vou vir aqui te dizer que abraçar o desconforto é belo, porque não acho. Eu honestamente não vejo poesia nesse esforço colossal não. Mas ele dá resultado, bem aos poucos.
Eu tenho tentado repassar mais os caminhos com meu namorado, tentar mapear os pontos comerciais ao redor de onde eu preciso ir. Não funciona muitas vezes, mas é a pré-preparação pro próximo passo: começar a tentar me aventurar mais sozinha. Mesmo que só pensar nisso me dê uma dorzinha na barriga.
Então semana passada a gente viajou pra Split, uma cidade da Croácia. Eu não tinha planejado conhecê-la, o Ícaro, meu namorado, ia a trabalho e como eu não precisaria pagar hospedagem, resolvi ir também. Além disso, a gente comemorou 8 anos de namoro enquanto ele estava lá e eu sempre tinha sonhado com o Mediterrâneo transparente, uma canga na areia e um livro levinho.
Parecia o plano perfeito, exceto pelo fato de que eu iria estar sozinha durante 5 dias, sem meu parceiro de viagem/GPS pessoal. Sempre que a gente viaja eu crio os roteiros de tudo, mas cabe a ele nos fazer chegar nesses lugares. O medo quase me fez não ir, aí eu me convenci de que ia estar na beira da praia todos os dias e não precisaria andar demais. Não preciso te dizer que na semana choveu 6 dos 7 dias em que ficamos lá, né?
No domingo, o Ico sugeriu que eu nos levasse pros lugares usando o mapa do celular. Só pra testar. E ir me sentindo mais segura. Detestei. Mas fiz. E sinto muito te informar, mas não tem uma guinada onde se tornou divertido. Eu fiquei irritada, andando meia quadra e voltando, olhando a bolinha azul girar e girar até encontrar o ponto turístico que queria. Briguei com a tela, perguntei mil vezes se era isso mesmo. No fim do dia, a gente tinha almoçado, ido à praia, ao café e ao jantar graças às minhas direções. Ainda assim, eu tava tensa pra começar a semana sozinha.
Só que a vida não espera a gente estar necessariamente pronta pra ir acontecendo, né. A segunda-feira chegou e eu tinha duas opções: ficar no hotel ou na única rua que eu sabia chegar ou tentar aproveitar esse lugar belíssimo no qual eu provavelmente não volto tão cedo. E se eu tô te escrevendo tudo isso, é de se imaginar que eu escolhi a segunda opção, né. Pois pode comemorar comigo, foi isso mesmo. Saí determinada a chegar no museu, me levei para almoçar num restaurante distante em uma região da cidade que eu não tinha pisado ainda. Voltei pro centro. Encontrei meu namorado e os colegas dele num bar pro happy hour.
Ainda que não tenha sido totalmente fácil e que nos primeiros dias eu tenha errado um montão de vezes e xingado o google maps com certa frequência, zanzei tanto que minha média de passos da semana ficou em 12 mil por dia. Talvez tenha sido a cidade pequena, o mood aventureiro típico de quem está de férias, um impulso. O que importa é que eu fui indo. Apesar do desconforto.
O vento batia no rosto, enquanto Daisy Jones & The Six tocava no fone sem parar e eu me senti tão orgulhosa, tão livre, tão pronta pra desbravar o mundo - uma sensação poderosa, mesmo que efêmera. Foi uma virada de chave pra motivar as tentativas frustradas. Pra motivar outras que sejam um sucesso. Hoje eu já me perdi na rua de novo? Sim. Mas logo depois de te mandar essa newsletter tô indo sozinha ver um filme num festival de cinema num cinema que não conheço, algo que eu não faria até semana retrasada. Mas vou tentar fazer.
Foi bom me levar pra passear, almoçar, visitar os museus que queria, riscar os pontinhos do meu roteiro e finalmente entender que aquela sombra que segue a bolinha azul no aplicativo de mapa é o meu campo de visão. Saber disso funciona sempre? Não. Mas nada nessa vida tem uma taxa de 100% sucesso, logo, eu também não preciso ter.
Tem dias que eu acho que compartilho demais minhas fragilidades e que esses textos poderiam estar em um diário. Mas aí eu recebo uma mensagem, como as várias que recebi sobre exercício físico na news passada e penso que talvez o caminho seja justamente esse: dividir o que fica preso no peito pra que a gente - eu e quem se identificar com isso - se sinta mais leve. Faz sentido? Espero que sim!
Um roteiro de Split, Croácia
Uma cidade pequetuxa e com um centrinho lindo de viver, Split parece um cenário de filme de tão bela. Pensa naquelas ruelas de pedras charmosas, arcos que nos revelam novos cantinhos pra explorar, casas lindas antigas ao redor de uma montanha, água cristalina de encher os olhos. É tudo isso que a cidade vai entregar.
É claro que eu não espero que a sua viagem aconteça na chuva, mas, como a minha aconteceu, fui obrigada a explorar o que mais a cidade tinha a oferecer pra além das praias. Então eu reuni todos esses lugares com comida vegetariana gostosinha, museus, pontos turísticos, lojinhas, praias, cafés e tudo mais o que eu visitei nesses 7 dias sendo minha própria guia nesse post. Mas vou te confessar que passei muito tempo sem pressa lendo sentadinha em um café, então esse é um roteiro pra saborear devagarzinho ou condensar em dois dias e ser feliz.
Chego com novidades
É com muita alegria e um cadinho de insegurança, se eu for totalmente honesta, que venho anunciar que agora Pausa para o chá também é um podcast, disponível no Spotify, que vai contar com episódios exclusivos.
Além das versões em áudio das newsletters, agora vou expandir o nosso universo de parar pra tomar um chazinho e cuidar da gente mesma, trazendo mais dicas de livros, conversas e hobbies que sejam gostosinhos. Quem sabe a gente não faz até uma receita de chá juntas, hein?
Então já me segue lá no Spotify, ativa as notificações que logo menos, sai nosso primeiro episódio exclusivo! Pronto! Tudo compartilhado! E como sexta é um ótimo dia pra gente descobrir coisas legais pra ler/assistir, vamos de dica!
A terra das coroas, Yannikson
Eu não tenho MATURIDADE PRA ESSE MOMENTO, mas o meu melhor amigo de muuuitos anos acaba de publicar o seu primeiro livro!!! E não é só porque o meu amor é grande e acompanho suas aventuras com a escrita desde que éramos dois adolescentes escrevendo nossas fanfics na internet, que tô trazendo essa dica. A verdade é que essa história é tão linda e especial que merece chegar no máximo de pequenos e adultos possível.
A Terra das Coroas vai contar a história de Tena, uma menina com coroa de bolhas que sente falta da irmã mais velha. Ao conhecer Cinépio, Yuni e Mabel, ela inicia uma colorida aventura em busca da irmã pela Terra das Coroas. Juntas, as crianças vão perceber que suas coroas podem ser mais poderosas do que imaginam.
Nas palavras deste autor publicado chiquérrimo, “esta narrativa é uma das formas que encontrei para celebrar a vida e os crescimentos de crianças e adolescentes negras, destacando suas sensibilidades e traçando novos imaginários e protagonismos possíveis, através e a partir do fortalecimento identitário”.
Inspirado na relação que ele mesmo teve com seus irmãos e irmãs, o livro aborda os afetos e traz em seus protagonistas uma inspiração para que crianças negras se vejam como protagonistas de suas próprias histórias de um jeito lúdico e repleto de fantasia.
Além dessa história linda, que eu bem sei há quanto tempo vem sendo desenvolvida com todo amor, as ilustrações da Bárbara Luiza Farias estão simplesmente lindas. Mal posso esperar para pegar a minha versão física! Uma pena que tem um oceano entre nós, mas você que não passa pelo mesmo, já pode garantir!
A terra das Coroas está disponível no site da editora, mas você também pode comprar diretamente com o autor e garantir uma cópia autografada - o que eu recomendo muito! É só mandar mensagem pra ele lá no Instagram.
Segunda é dia do red carpet do ano
Aproveitando que o Met Gala está muuuuito próximo, que tal conhecer um pouco da história do dia mais importante para o mundinho da moda? Já te adianto que esse evento icônico só existe por conta de três mulheres poderosíssimas! Vem conferir.
Bom, é isso, boa sexta pra você e nos lemos - ou ouvimos - em breve.
Marcie