Bom dia, gatinha miss bumbum
Sobre tentar mexer o corpo sem pensar nas calorias perdidas e, finalmente, encarar o pavor de academia
Eu te escrevo hoje vestindo top de academia por baixo do look, com uma aba da Adidas aberta em busca de inspiração estacionada do lado do editor de texto em branco. Sim, tô postando 1/5 no story na segunda com a melhor das intenções de chegar no 5/5 lá na sexta. Ainda não cheguei no grau de me intitular chapadinha de endorfina e tampouco tenho fluência nos aparelhos, mas tô lá.
Se até dois anos atrás alguém me dissesse que esse corpo em que habito habitaria uma academia eu daria uma gostosa risada. Daquelas altas mesmo. Porque esse lugar sempre me deu pavor. De me sentir deslocada. De todo mundo ver a minha desconexão com qualquer esporte ou atividade física que não seja dançar (talvez um resquício daquele constrangimento que vai crescendo na gente quando somos sempre as últimas a serem escolhidas na educação física). Pavor da falta de força dos meus braços. De não saber ligar uma esteira. A lista era gigantesca. Eu tava convencida, vou fazer outras coisas. Mas aí não piso.
E a minha vida tava bem sem ela. Eu fazia umas aulas de dança duas vezes por semana. Caminhava. E não tinha tempo pra muito mais. Até que chegou o tcc e eu sentia que de tanto exercitar o cérebro entre escrever academiquês e depois escrever no trabalho, precisava limpar a cabeça. Pra não pensar em tcc no trabalho. E em trabalho no tcc. Me reiniciar e voltar com a bateria mais cheia. Então fui pro Youtube atrás de aulas de dança, muito antes de o lockdown transformar a sala de todos em um ginásio. Encontrei coreografias de reggaeton e foi assim que comecei a fazer uma hora de dança por dia de segunda a sexta.
Era bom, divertido, me dava aquela sensação gostosa. Me fazia parar de pensar na lista interminável de coisas pra fazer e focar nos passos. No meio disso eu perdi peso. Nada absurdo, mas encarei a minha versão mais magra no espelho e gostei. Era quaaaase a versão que a sociedade me fez acreditar que eu gostaria de ser. E nessa profusão de aaaaases foi que a dança deixou de ser divertida.
Não é que tenha sido automático ou intencional. Teve muito do meio em que eu estava inserida. Muito elogio. Muito dos padrões inalcançáveis que as mulheres precisam conviver todos os dias e que fazem o capitalismo seguir lucrando enquanto nos endoece.
Eu acreditei que agora que finalmente tinha “chegado lá”, precisava manter. O caminho? Abrir o Youtube, de segunda à sexta, e dançar uma hora cronometrada. Mesmo que eu estivesse de saco cheio. Ou com a cabeça caindo de sinusite. Com a agenda apertada. Nâo ineteressava. Não existia a possibilidade de não fazer.
Óbvio que um corpo que precisava de uma general intransigente do tipo “então não me conte seus problemas” não ia durar. E não durou. Porque custava muito. Mas eu segui me cobrando. Mesmo quando a rotina não comportava mais espaço para exercício 5 vezes por semana. E o exercício perdeu completamente a graça. Virou uma obrigação. Porque, repito, eu já tinha quase estado lá.
Corta pra 2022. Eu achei outros treinos porque a dança realmente já tinha me esgotado. Mas também não me animava muito. Aí me orgulhei de me sentir mais forte, de ter agora um míni-micro bíceps. Mas ainda me botava pra suar e tentar voltar pra aquela versão de mim que durou tão pouco. Aí quebrei o pé, fiquei quase seis meses sem poder fazer nada. Ganhei um pouco de peso. E no meio de tudo, tava agoniada por ter minha busca constante interrompida. Ao invés de reconhecer como esse corpo tava se curando de uma lesão grave, tava preocupada com estar parada há tanto tempo.
Só que tem coisas que a gente não pode fazer nada contra. Então eu tive que esperar. Até agora. E de alguma maneira, ver coisas simples como andar se tornarem uma evolução, do mega difícil ao mais fácil, foi o que me fez tomar coragem. Porque a gente dá conta de muito e, sem dúvida, vai dar conta desse desconforto inicial de encarar os aparelhos e as pessoas que sabem fazer tudo pra tentar levantar os nossos 5 kg na mais santa paz e esforço.
Aí a academia disse que eu tinha que fazer uma avaliação inicial e passei o dia anterior inteiro pensando na vergonha de ter um personal me avaliando e vendo tudo que eu fazia de errado, a minha falta de coordenação, o quão pouco tiro o corpo do chão no abdominal. Mas era obrigatório, então eu fui. Esperando o pior. Meia hora depois, tava numa bicicleta, exausta, suada, com o professor contando os últimos segundos e gritando “tu sí puedes”. Eu sim posso. Apesar de parecer muito papo de coach, eu tô me convencendo de que posso, apesar da sensação de inadequação.
E tô lá, adorando a zumba na segunda, me sentindo a alongada no pilates de terça e morrendo na aula de bicicleta da quarta. Levantando uns pesos pequenos e me divertindo. Com o que eu sim posso fazer. Com esse universo novo de aparelhos de metal e cheiro parcial de suor que agora faz parte da minha rotina porque assinei o plano anual.
Tô tentando, com a ajuda da terapia, a contar repetições e não calorias abandonadas. Porque um dia isso não importou tanto - não vou ser hipócrita de dizer que nunca importou, afinal, acho que ninguém passa imune por anos e anos de discurso, publicidade, família, amigues, namorades e marcas dizendo como nosso corpo deve parecer -, mas mesmo antes já era tão melhor.
Eu quis dividir tudo isso porque quando eu lia os vários relatos de gente que encontrou o seu exercício e tava feliz, eu sentia que não ia me acontecer de novo. Que ia seguir na obrigação. Atrás desse corpo. Que nem é meu.
Mas tá acontecendo. Finalmente.
Em clima de fim de semana quase chegando, as minhas dicas são séries gostosinhas pra maratonar.
Daisy Jones & The Six, Prime Video
Quem me segue nas redes sociais (seja Instagram ou TikTok) já sabe o quanto eu tava obcecada pelo lançamento da série Daisy Jones & The Six. Eu comprei camiseta fake do último show da turnê, reli o livro que a série adapta recentemente, acordei cedinho pra ver os episódios, gravei vídeo sobre… E aí você me pergunta, quando a gente se emociona dessa maneira, não se decepciona? Eu te respondo, com um sorriso no rosto, sim e não.
Pra quem tá precisando de contexto: Daisy Jones & The Six é uma série baseada no livro de mesmo nome, escrito por Taylor Jenkins Reid - autora do também hit Os sete maridos de Evelyn Hugo e muitos outros livros que merecem a sua atenção. O livro/série contam a história de uma banda fictícia, que foi apenas o ícone dos anos 70 e acaba sem motivo aparente justamente quando estão em seu auge.
Muitos anos depois, alguém decide contar essa história e entrevista todos os membros da banda para entender o que aconteceu no passado. E o que aconteceu? Muita briga, drogas, intrigas, paixões…
A série tem muitos pontos positivos, consegue captar a aura daquele período, adapta quase todos os personagens bem, traz vários dos momentos importantes das páginas pras telas. E mesmo quem não leu o livro com certeza vai se divertir assistindo. Os progatonistas têm uma química muuuuito boa e a sensação de torcer por eles é inevitável.
O que eu não gostei tanto assim: a adaptação de Daisy, que foi muito higienizada pra parecer uma mocinha mais palatável/gostavel, quando a personalidade, estilo e jeito dela serem um dos pontos fortíssimos da narrativa. Também não gosto que todas as músicas tenham mudado, não custava tanto assim trazer algumas partes das letras, já que elas são importantíssimas pro livro e pra história.
Ainda assim, indico também ouvir The River, que é uma delícia. Só queria um vestidão plissado dourado e um karaokê pra performá-la.
Ah! Pra quem ama comparar livro e série, fica a dica de conferir esse post com as principais diferenças entre os dois.
Next in Fashion, temporada 2, Netflix
Quem ama um bom reality show de moda já deve ter assistido à primeira temporada de Next in Fashion, série bem no estilo competição com desafio novo a cada episódio no qual designers emergentes concorrem pelo título de futuro da moda, além de, claro, um prêmio de 250.000 dólares.
Eis que a segunda temporada acaba de estrear e vale muito a pena assistir! O que eu mais acho incrível nessa série é a seleção foda de candidatos que eles nos apresentam. Vai chegando perto da final e a gente quer que todos ganhem porque eles simplesmente são muito bons.
Os desafios são divertidos e temos nomes gigantescos da moda - Donatella Versace, Isabel Marant e Olivier Rousteing, da Balmain - como jurados. Só senti falta de Alexa Chung, que foi substituída por Gigi Hadid como apresentadora, mas Tan France continua lá e é o que mais importa pra mim.
Aproveitando que o assunto é Next in fashion e Tan France, fica aqui minha menção honrosa para o figurino dele nessa segunda temporada. Sério, tá um PRIMOR! Acho que os looks elevaram os elementos do estilo dele mais marcantes - como a alfaitaria e as botinhas de cowboy - de um jeito divertido e fashionista. Temos boas pitadas de tendências, cores vibrantes, modelagens belíssimas…
Bom, é isso,
Nos lemos em breve, sim, nos, porque tô sempre aqui pra receber o seu comentário/história relacionado com o tema ou não/dica de série, livro, música…
Marcie!
Me identifiquei por aqui, não sou fã de academias e nem educação física, nunca fui boa. Frequentei por um tempo para incentivar minha mãe, mas logo percebi que não pertenço ao mundo fitness, talvez seja paranoia da minha cabeça. Fazia caminhada e a pandemia chegou e tirou o meu lazer, ganhei uns quilos, amo dançar e faz algum tempo que não prático, mesmo fazendo uma seleção do YouTube, kkkkkk, voltei com a caminhada e não tá sendo fácil. Sigo tentando, obrigada por partilhar o teu pavor, me fez repensar que talvez academia não é um bicho de sete cabeças. Beijos da sua amiga, Dany💋
Adorei a news de hoje! Vou usar como incentivo pra voltar pra academia na segunda, além de terminar de assistir Daisy Jones e Next in Fashion.