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Fechando ciclos e valorizando sonhos
No mês em que o RBD voltou, eu também fiz um comeback, pras coisas que eu queria tem um tempo
Se você fez parte do mundinho Rebelde, já deve saber da notícia de que o grupo vai voltar - sem o grandiosíssimo gostoso do Poncho Herrera, mas vai voltar. COM SÓ DUAS DATAS POR ENQUANTO NO BRASIL, mas vai voltar.
Entre planejar como voar pro Brasil na época do show e tirar minha estrelinha metalizada empoeirada da gaveta, fiquei feliz. Porque Rebelde e RBD pra mim não trazem só memórias gostosas da infância/pré-adolescência. A novela e as músicas me fizeram sonhar pra além do meu quarto de paredes cor de rosa numa cidadezinha chamada Charqueadas.
Foi com Rebelde que eu consegui dar vazão a uma vontade que sempre esteve presente: ir embora. Conhecer outro país, outra cultura, falar espanhol por aí. Tudo isso virou um sonho e Rebelde foi importante porque me mostrou que existia, fisicamente, esse outro lugar em que eu queria estar.
Eu não sei de onde o meu carinho com o espanhol/castellano vem. No auge dos meus cinco anos, já performava Corazón Partío, do Alejandro Sanz, a plenos pulmões, num palco improvisado na sala da minha casa. Inventava palavras, metia um nanananina no meio e achava que tava arrasando.
Anos depois, foi com as horas e horas decorando letras do RBD e descobrindo o que as palavras significavam, que eu criei vocabulário e aprendi um pouco do idioma meio sozinha, meio acompanhada de todos os meus CDs. Até hoje quando eu quero pensar em como dizer enquanto, toca baixinho na minha mente mientras mi mente viaja donde tu estás.
Foi com Rebelde que eu afirmei, no auto dos meus 13 anos, que ia morar no México. Todo mundo riu, porque além da distância física, parecia quase impossível pra todos nós. A gente sequer conhecia alguém que tivesse saído do país, poucos tinham saído do estado. Era um tempo sem acesso à internet, numa cidade minúscula, com uma família classe c que não tinha direito de almejar coisas grandes, porque tava trabalhando pra caralho pra garantir e manter o básico.
Com tudo isso, parecia quase ousadia pensar em coisas tão grandes. Meio bobo, meio descolado da realidade, sabe? E talvez essa sensação de descolamento tenha definido grande parte das escolhas que eu fiz na vida. Porque eu queria ver mais. Encontrar tudo aquilo que eu sentia que escapava da mão. Depois de muita terapia, percebi que talvez seja essa sensação de falta, que me acompanhou silenciosamente por tantos anos, que me trouxe uma fome de tudo.

Bom, corta uns dez anos e eu tô no num posto da polícia, no aeroporto de Madrid. Rebatendo uma policial que não quer me dar um documento ao qual eu tenho direito. Que tá gritando comigo e dizendo que não vai fazer. Eu argumento, explico, mantenho a calma, apesar de exausta. Não me faltam palabras. Hablo. Com segurança e confiança, me sinto quase saindo de mim pra me ver de fora. E aí, depois de muito brigar, com o documento em mãos, eu choro dentro do carro de aplicativo. Fechamos um ciclo. Conseguimos.
É óbvio que essa catarse pessoal poderia acontecer num momento e ambiente mais agradável, né, mas, porra, Marcinha, escrever as letras das músicas de RBD no caderno e tentar aprender o que dá vai nos levar longe. Em algum momento a gente vai conseguir pagar um semestre de aulas de espanhol. Depois vamos ter que parar porque ficou difícil de manter no orçamento. Vamos sentir vergonha de falar com as pessoas na primeira viagem pro Uruguai. Também vamos ficar radiantes quando um taxista em Buenos Aires achar que a gente é castellana porque falamos tão bem. Sim, a gente foi pra esses lugares. E outros mais. Vamos finalmente conseguir fazer aula uma vez por semana. Até estarmos empoderadas o suficiente para, numa quarta-feira chuvosa, de pé quebrado, nos defender.
E sabe o que mais? A gente ainda não foi pro México, mas tá aqui nesse aeroporto pra pedir um documento pro nosso visto pra morar em Barcelona. Então, segura na mão da Shakira, da Thalia e de Anahí que semana que vem começa um novo capítulo, um cadinho diferente, no qual a gente realiza um sonho.
Eu me sinto quase piegas de escrever isso tudo. Porque parece banal, sei lá, é só falar um idioma no dia a dia, em um novo país, sabe? Mas uma conversa na última semana, regada à vermut, me fez perceber que eu tenho olhado pras faltas de um jeito injusto. Eu não sou menos por elas, eu sou e fiz e estou aqui por e apesar delas. Então venho tentando me celebrar. Escrever tudo isso é uma forma de fazê-lo pra além da minha cabeça. De eternizar essa sensação que eu morro de vontade de completar ou justificar com “é meio boba, eu sei”. Mas hoje não. Hoje eu vou tomar emprestada a confiança ingênua que eu tinha aos 13 pra sentir orgulho de nós - a que eu sou e a que eu fui, por a gente ainda sonhar grande. E por nos emocionarmos com os sonhos pequenos
Então vem aí a temporada Barcelona, novas descobertas, novos perrengues, muitos stories e mais cartinhas quinzenais chegando na sua caixa de entrada.
Torce por mim - e nos lemos em breve!
Marcie
Ah! Só agora eu me dei conta de que vou morar na cidade de um dos meus livros preferidos. A vida às vezes tem um jeito de amarrar os ciclos de um jeito APENAS maravilhoso. Quem sabe não vem aí, no futuro, um e-mail só desvendando a cidade a partir das páginas do livro?
Já fica essa dica de leitura maravilhosa, que reli em vários invernos e que formulou um pouco do que eu aprecio como escrita e tento escrever. Um livro pra quem gosta de mistérios, de flertar com a fantasia e para os apaixonados por livros.
E, pra finalizar no clima Rebelde, essa minha playlist com as melhores do RBD é muito elogiada. Vai que você esteja precisando?
Um beijo.
Fechando ciclos e valorizando sonhos
chorei com essa 😭😭😭
te amo e sinto um orgulho (e uma saudade) absurdo de ti
👏👏👏