Janeiro já passou da metade, é possível até mesmo dizer que ele tá se encaminhando pro seu fim e só agora eu tive o tempo (ou a pachorra) de vir te desejar feliz 2024. A verdade é que eu comecei o ano novo com pendências do ano velho. Meu dezembro envolveu muitas consultas médicas e tive que adiar tudo pra cuidar de mim - e que bom que eu consegui aceitar isso e não adiar. O corpo tava pedindo, eu acatei. Descansei. Só que uma coisa muito importante ficou pendente nesse me priorizar: o clássico planejamento do que eu queria pra 2024.
Sim, eu sou daquelas que acredita que o ano novo é um recomeço, trezentos e tantos dias de novas possibilidades. Mesmo que nada realmente mude, eu gosto de acreditar que a energia se renova, que o ciclo reinicia. Então, a cada finzinho de dezembro, eu gosto de sentar com um caderno e uma caneca exorbitantemente grande de chá e pensar no que eu quero pro futuro. Começar com uma retrospectiva e só então pensar no que quero manter, no que quero deixar e no que quero começar. Listar tudo, dos detalhes da rotina aos destinos de viagem, dos hábitos aos sonhos.
Tirar as ideias da cabeça e colocá-las no papel pode parecer uma atitude banal, clichê ou até mesmo analógica demais, mas funciona como um primeiro passo para eu conseguir dar importância para as minhas vontades, para os meus sonhos. Eu sou muito boa em executar listas, em planejar a vida, mas preciso melhorar muito nessa de me permitir imaginar outras realidades, outros sonhos.
Quando eu era mais nova, eu sonhava muito com a vida que queria ter, com como seria meu futuro… Eis que em algum momento da vida adulta, eu senti que estava perdendo essa habilidade, que meus dois pés taurinos estavam fincados demais na terra e isso não era bom. É importante ser racional, planejar, ter noção do que está ou não ao alcance para não se frustrar, mas a vida é chata demais sem uma pitada de fantasia, sem esse sonho delusional que uma garotinha de uma cidade pequena tinha de trabalhar na Vogue USA não falando uma palavra de inglês, sem as cores vívidas de conseguir de fato se imaginar em NY, com um café gigante na mão, mesmo sem nunca ter viajado mais de 200km.
A gente precisa de magia, desse friozinho na barriga de “já pensou se tal coisa acontece?”, se não fica tudo cinza demais. E talvez sejam justamente esses planos/sonhos/vontades que nos animem ou impulsionem a fazer todo o resto.
Na vontade de voltar a ter planos emocionantes, eu direcionei o ouvido para dentro e para fora de mim. Encontrei várias coisas que estavam adormecidas nas profundezas. Outras, que eu falava que queria fazer/viver e uma simples menção a elas já me fazia ficar toda alegrinha. Fui ouvindo, pensando e, nesse exercício, eu percebi que não tinha deixado de sonhar, mas de reconhecer os meus sonhos - sejam eles corriqueiros, mirabolantes ou os que ficam no meio desses dois extremos. E isso é duro. Se nem eu me deixo sonhar, quem vai deixar?
Com isso em mente eu fui escrever as minhas metas, que, em sua maioria, não vieram com aquela carga de pressão tão grande. Encarei mais como um reconhecimento de algo fundamental que eu estava deixando para trás - e que eu não quero deixar. Um registro de que sim eu sonho. Sonho com coisas supérfluas tipo um sapato vermelho da Ganni, com aprender coisas novas como pintar com aquarela, com viagens, com experiências, com um apartamento próprio e por aí vai.
Eu pensei várias vezes se usava essa palavra. Sonho. Porque ela parece meio forte demais e, ao mesmo tempo, meio boba. Como eu disse antes, eu já sonhei muito. E tenho a lembrança vívida de várias pessoas rindo desses sonhos, porque eles eram “impossíveis” na cabeça delas. Talvez seja isso que colocou sonhar na categoria das frivolidades em algum lugar dentro de mim. Mas também foram justamente esses sonhos e a maneira que eu encontrei de executá-los que me trouxeram ao lugar em que eu estou agora. Então eu vou deixar sonhar no texto sim. E vou me deixar sonhar. Esse ano e espero que nos próximos.
Queria te escrever tudo isso porque vai que você também deixando de colocar na lista algo que parece grandioso demais, distante demais, difícil demais de sair daquele cantinho do “e se”. Eu não quero ser a pessoa que me breca. E imagino que você também não queira. Escreve lá. Mesmo que seja só pra reconhecer visualmente que essa vontade existe.
Conversando com um amigo eu disse que esse ano é o nosso ano de nos empoderarmos. Eu e ele. Mas estendo o convite a você também. Eu sei que a palavra talvez tenha perdido a força nos últimos anos. Mas se tem uma coisa que eu quero esse ano é isso. Deixar a impostora que me habita mais calada, reconhecer minhas potências, aceitar a imperfeição e o tempo das coisas… Não exigir de mim o que eu não exijo de ninguém mais. Me celebrar como eu celebro quem eu amo.
Parando para pensar, essa desabilidade de reconhecer os próprios sonhos tem muito a ver com a minha impostora. Que faz eu não me sentir apta em algum lugar a viver essas coisas, que transforma o que poderia ser super possível em algo de outro mundo. Que me exige um plano de sucesso até para o que eu quero ter de hobby. Se não é excelente é um possível fracasso. Confesso que fiquei um pouco cansada só de escrever tudo isso, imagina pensar…
Confesso que me sinto cafona em dizer que vou me empoderar esse ano, mas eu vou. Na terapia, escrevendo cartinhas digitais para você, escrevendo num diário só para mim pela primeira vez na minha vida inteira. Criando um vision board para ver materializadas essas coisas que estão na minha cabeça. Conversando com os meus amigos. Perguntando o que eu quero com a escuta ativa de quem tem dois ouvidos e só uma boca. Eu não preciso imediatamente listar todos os motivos de porque aquilo não é uma boa ideia. Eu vou tentar fazer o contrário. Ouvir porque aquilo parece importante para mim. Para que ano que vem seja ainda mais fácil sonhar outros sonhos. Vai fazer o mesmo? Se precisar de uma amiga, uma conhecida ou até mesmo uma completa desconhecida que chega no seu e-mail todo mês, eu tô aqui. Mesmo.
Esse ano vai ser nosso e escrevo isso numa energia 100% se Deus quiser e ele HÁ (em tom levemente ameaçador) de querer.
Eu comentei que fiz uma pausinha - enaltecendo a ideia desse projeto - para tomar incontáveis xícaras de chá e descansar no fim do ano passado. Por isso, tô com algumas dicas de livros e séries para compartilhar com você. Vamos lá?
Reservation Dogs, Star +
Talvez tenha sido o efeito da greve dos atores e roteiristas em Hollywood, mas eu ando numa seca de séries nos últimos tempos, reassistindo as que eu já vi mil vezes - cof, cof, Gilmore Girls - porque não me animo muito com nada. Então foi uma grata surpresa encontrar Reservation Dogs, criada por Sterlin Harjo e Taika Waititi.
A série vai contar a história de quatro jovens indígenas que vivem em uma reserva em Oklahoma e tão meio que desesperados para saírem de lá. Os quatro são muito amigos, mas, MUITO mesmo, daqueles amigos que estão sempre juntos, em todos os momentos. E aí a gente descobre que esse grupo costumava ser maior, que eles tinham um quinto elemento que morreu no ano anterior.
Entre o tédio dessa cidade onde não acontece nada e os seus lutos, os adolescentes decidem realizar o sonho do amigo que não está mais com eles: ir morar na Califórnia. Para isso, eles passam a cometer alguns crimes e vários trambiques a fim de juntar o dinheiro para a viagem.
Apesar de lidar com temas pesados às vezes, a série tem uma sensibilidade muito especial na forma de contar as histórias e consegue ser muito engraçada em vários momentos. Os protagonistas são uns preciosinhos, mas os personagens secundários também são super interessantes. Na verdade, cada pessoa que vai aparecendo na tela deixa a gente com gostinho de quero mais.
Entre a fofura, a ironia e momentos de tristeza, Reservation Dogs me conquistou antes de o primeiro episódio acabar. Sem me dar conta, estava em uma maratona, assistinto outros cinco episódios no mesmo dia e ignorando o quanto precisava acordar cedo na manhã seguinte. Tô recém acabando a primeira temporada - a série tem três ao todo - e amando, porque a série tem um frescor, uma originalidade, que está totalmente ligada com o fato de sua equipe técnica e atores, quase que em sua totalidade, serem nativos americanos. Não precisaria nem dizer que faz toda a diferença, mas vou reforçar. Porque a gente precisa de muito mais disso no audiovisual, nos livros, em todas as formas de entretenimento e arte.
E se você se interessou pela série ou pelo tema, fica o link de uma matéria do New York Times que traz algumas falas dos criadores e atores sobre a série.
Escritores e amores, Lily King
Eu demorei um pouco para começar a gostar desse aqui, mas depois, lá pela metade, gostei. Talvez tenham sido as minhas expectativas… Talvez pelo nome, pela capa ou pela sinopse que indicava que essa história era um triângulo amoroso, eu estava esperando algo mais Loucos por Livros, da Emily Henry, sabe assim? Eis que me chega uma história mega triste, de uma mulher passando por um luto fodido ao perder a mãe. Além disso, ela está cheia de dívidas e trabalha em um lugar que não gosta e não tem nada a ver com o que ela quer só para conseguir continuar escrevendo um livro no qual ela já vem trabalhando há uns 5 anos.
“Eu olho nos meus olhos, mas eles não parecem realmente meus, não os olhos que eu costumava ter. Eles são os olhos de alguém muito cansada e muito triste, e uma vez que eu os vejo eu fico ainda mais triste, então eu vejo essa tristeza, essa compaixão, pela tristeza nos meus olhos, e eu vejo água começar a surgir neles. Eu sou ambas: a pessoa triste e a pessoa que quer confortar a pessoa triste” p.17
Ao ter que lidar com tudo isso, a personagem, que também é a narradora, talvez não seja a pessoa mais legal de acompanhar. Ela às vezes é fria, está meio paralisada, entedia com suas narrações. Aí, do nada, te lança uma frase sagaz e crítica que te deixa pensando. Ou que te dilacera - em especial quando fala da mãe.
Esse livro também vai tratar muito do processo de escrever e talvez esteja aqui o seu maior feito. Seja nos clichês do mundo literário, nas diferenças como autores homens e mulheres se portam e são tratados ou no processo sofrido e nada romântico que escrever pode ser, essas reflexões e apontamentos é que fizeram o livro deslanchar para mim.
Falando especificamente do triângulo amoroso, acho que essa é a parte baixa do livro. Um dos caras em específico é um completo “eca”, tem umas frases cafonas, ultrapassadas, umas coisas que eu não consigo nem entender como ainda alguém fala, tipo, tem um momento que esse personagem diz para a protagonista que ela tem uns quadris perfeitos pra parir bebês ou algo do tipo. Gente, que ano é hoje, sabe? No caso, o livro se passa em 1997, mas ainda assim.
Num resumo, acho que é a história é bem contemporânea e aborda muitos temas interessantes, seja crise dos trinta, ansiedade, luto, escrita e, também, essa sensação de desapontamento com as carreiras que a gente escolhe, com as aptidões que a gente tem e que não compensam o tanto de esforço que a gente coloca nelas. E se cê se interessa por algum desses temas, super vale a leitura.
Você teria um minutinho para ler a palavra dos melhores livros de 2023?
Ainda que o ano já tenha acabado, falar de livros que marcaram a gente sempre é pertinente, né? Até porque sinto que várias das leituras citadas nesse vídeo vão me marcar pela vida inteira.
O vídeo reuniu dicas para rir alto, se emocionar, viajar para muitos lugares e conhecer muitas histórias lindas. Vem conferir! E, se não for pedir demais, me responde essa news com a sua melhor leitura também? Estou aqui organizando minhas compras de livros para quando for para o Brasil e vai que cê tenha um livro icônico que não pode ficar fora dela?!
Leituras polêmicas
Ainda no mundinho Pausa para o Chá no Youtube, eu fiz a resenha de um livro que foi bem pedido lá no meu Instagram, um livro que dividiu opiniões, que conquistou ódios e amores e uma média de estrelas bem mais baixa do que alguns livros xoxos e capengas que li no ano passado. Estou falando de Cleopatra e Frankenstein, da Coco Mellors, que com sua capinha instagramável virou um verdadeiro viral no booktok. E aí, para saber em qual lado da treta eu fiquei, é só conferir o vídeo.
Ah! Já aproveita e se inscreve no canal pra receber mais dicas de livros, vídeos de viagem e talvez até de costura - spoilers que talvez eu me arrependa de ter contado porque daí vou ter que fazer acontecer kkk
Bom, é isso, feliz 2024, nos lemos ou ouvimos ou vemos em breve,
Um beijo e até o nosso próximo chá