Como se vestir pro clima que a gente tem?
As quatro estações tão aí há muito tempo, mas isso não quer dizer que a gente está preparada pra elas
Faz algumas semanas que eu tô reclamando quase que todos os dias na hora de me vestir - seja aqui em casa, seja na internet. Porque tá um calor desconcertante, aterrador, derretente (eu sei que essa palavra não existe, mas me pareceu adequada pra essa sensação constante de suar bicas). E se eu geralmente não tenho muito problema em me vestir todos os dias do resto do ano - inclusive, me divirto bastante nesse misturar de peças, cores e tecidos -, agora simplesmente não quero colocar nada. Encaro as peças fora do corpo, penso em combinações visuais com potencial pra me fazer feliz, mas a verdade é que não queria tecido nenhum encostando em mim. Mas ainda preciso me vestir. E você também.
Eu sei que a gente provavelmente está bem apartada em termos climáticos. Porque é muito possível que você me leia enquanto desfruta de um inverninho gostoso, com algumas pausas de calor oferecidas pelas mudanças climáticas que o nosso planeta vem sofrendo. Mas, mesmo que pra mim uns 12ºC pareça uma dádiva divina, também tenho acompanhado várias pessoas reclamando da quantidade de camadas, de não querer sair das cobertas, sem falar no compartilhamento anual de alguém de chinelo e meia questionando a frase “todo mundo fica mais estiloso no inverno”.
Ou seja, eu tô insatisfeita aqui e talvez você esteja insatisfeita aí. O que me faz pensar: como se vestir pro clima que a gente tem? Em especial, pro clima que a gente menos gosta.
E antes que alguém venha me xingar porque eu não sou a maior entusiasta de verão, eu já esclareço que até gosto de calor, mas não na cidade. Se eu conseguisse passar o verão na praia, num lugar com acesso à piscina, pode ter certeza que eu ia estar só sorrisos. Mas esse calor de asfalto, enquanto a gente precisa trabalhar, ser funcional e não se deixar envolver pela leseira de um dia baforento, sinto muito, não é comigo.
Bom, explicação feita, voltemos ao cerne da questão: como se vestir pro clima que a gente tem.
O primeiro passo é entender quem é a gente nessa estação. Explico: eu sou uma pessoa que sente muito calor. E que não gosta de sentir. Que estaria sem roupa se pudesse. Então o meu esforço é buscar peças que simulem esse ~não vestir~. Para isso, eu abuso dos tecidos levinhos e/ou naturais, que deixam o corpo respirar.
É verdade que eu já odeio ficar apertada em qualquer estação, mas no verão o meu calor multiplica por 5 se uma peça estiver muito grudada na pele, porque eu quero essa pele o mais liberta possível, com o mínimo de contato com tecidos. Todas essas necessidades que listei acima se traduzem em características que eu vou levar em consideração na hora de comprar coisas novas ou montar looks.
Então, pra encontrar as suas características e necessidades essenciais de vestir, comece se perguntando o que você gosta e não gosta nos looks dessa estação. Se o que você mais odeia nos looks de inverno são as várias camadas, talvez valha a pena investir em algumas peças térmicas, visto que elas aquecem o corpo de verdade, eliminando a necessidade de cinquenta blusas sobrepostas. Ficar de olho nos materiais mais quentinhos também é um ponto que pode ajudar muito a deixar os looks menos pesados. Muitas vezes, a gente tá empilhando roupa porque não tem nada que realmente aqueça o corpo, então os tecidos tão ali, literalmente, fazendo volume.
Outro ponto determinante pra ter mais conforto em cada estação é investigar quais partes da gente sentem mais aquela temperatura. Vamos lá falar de mim outra vez. No verão a simples ideia de colocar uma manga já me faz suar antecipado. Porque estar com o colo e a axila cobertos me enclausura de uma maneira inexplicável. Eu posso usar uma calça de boa, agora me coloca dentro de uma camiseta pra ver se eu não morro kkk.
Antes de me atentar a isso, eu passei muitos anos comprando peças que achava bonitas, mas que não vestia depois pelo calor ou, pior, sendo obrigada a usar manga em ambiente corporativo - e aí escolhia o material mais leve e a manga mais solta que encontrava, com camisetas e blusas com um decote v pra me desafogar.
Pra descobrir as partes que mais sofrem com o frio ou calor, você vai precisar se observar ao longo do dia. Preste atenção no seu corpo e nos maiores desconfortos. Com eles sanados, provavelmente a sua qualidade de vida fashion vai melhorar muito!!
Agora, se mesmo com todos esses passos cê se sentir meio desanimada - que é o que vem acontecendo comigo - é hora de jogar com o seu uniforme pra essa estação. Como é possível perceber pelas fotos que trouxe até agora, o meu uniforme infalível de verão varia entre vestido longo amplo ou cropped com parte de baixo soltinha. Cada vez que eu estiver derretida mentalmente pra pensar ou precisar de algo rápido, vou buscar essas peças. E aí, pra não ficar tudo na mesmice, a dica é inovar nos acessórios, testar com outros sapatos, bolsas… Mas também pode usar igualzinho já usou antes, roupa é feita pra repetir.
Ainda não tem um uniforme pra estação? Começa pensando quais são as roupas que cê mais usa no dia a dia e o que elas têm em comum. Pode ser cor, modelagem, tipo de peça, tecido, estampa… Tenta tirar foto dos seus looks pra viver a vida real durante umas duas semanas e percebe o que se repete.
Pode parecer bobagem, mas esse exercício de se ver na vida real - e não só nas fotos dos nossos melhores momentos ou ocasiões especiais - faz TODA a diferença. Isso porque a gente se veste muito mais pro trabalho, estudos, academia ou qualquer compromisso que se repete todo dia na nossa agenda, do que pra grandes eventos ou situações extraordinárias.
Ah! Aqui vale o destaque de que esses looks para o dia a dia não precisam ser sem graça não, ok? Pode se jogar no brilho, na manga dramática, nos recortes, assimetrias, plissados, acessórios marcantes, cores mil… Ou não. O que a gente está buscando aqui é encontrar as combinações que você mais usa - e gosta de usar - pra viver a vida que vive. Eu não tenho problema nenhum de ir no mercado com a mesma saia de paetê que usei no fim de semana. Muito pelo contrário, eu amo essas pequenas subversões. Então não tem fórmula, é autoanálise mesmo.
Pensa no uniforme como os seus mais mais, a combinação que você poderia repetir quantas vezes precisar, a que salvaria num incêndio metafórico. E aí você vai replicar com peças de estilos/cores/estampas diferentes essa mesma fórmula. Um exemplo te faria entender melhor?
No meu inverno, o uniforme que mais funciona é um terno ou conjuntinho com blusa de gola alta por baixo e sobretudo por cima. Então eu tenho alguns ternos, conjuntos e pijamas bem diferentes uns dos outros. O mesmo vale pras blusas e pros casacos. E aí o resultado são looks visualmente diferentes uns dos outros, mas, nas sinapses do meu cérebro, são a simples variação de uma mesma mistura, já há muito tempo assimilada por mim. Consegue perceber como todos os looks conversam e usam os mesmos recursos?
Bom, aqui estão as minhas dicas mais valiosas pra tentar me adaptar às estações. Espero que elas também se façam úteis na sua vida e se ficou com alguma dúvida, cê pode seguir a conversa aqui por e-mail ou nos comentários do substack.
Uma outra coisa, se cê tem alguma amiga/colega/parente que poderia gostar dessa news ou do tema dessa semana, compartilha com ela? Esse trabalho de formiguinha que só vai roubar um segundinho do seu dia seria muito importante pra mim!
Vamos às dicas da semana?
Copa feminina
Prepara o brunch, a cervejinha, o churrasco de amigues que estamos outra vez em clima de copa do mundo. Putz, que delícia! Eu não sou uma grande entendedora do assunto ou acompanho esportes de forma geral, mas, em copa e olimpíadas não dá outra: tô catando minhas roupinhas verde-amarelas e, dessa vez, caçando polvilho nos mercados como se minha vida dependesse disso pra assistir aos jogos com um bom pão de queijo.
Copa do mundo é aquele momento pra gente torcer, se divertir e a nossa seleção feminina já estreou amassando as adversárias num lindo 4x0. E é bonito demais ver a nossa seleção jogar, tem muito tempo que a seleção feminina coloca a incensada masculina no chinelo - ou na chuteira kkkk. Então a minha dica é tirar um tempinho do seu dia pra ver um jogão. A boa notícia? Você pode fazer isso amanhã, sábado, às 7 da manhã, com um cafézinho gostoso ou fechando o after - deus me livre, mas vai que cê seja dessas.
Se tudo isso não parece motivo o suficiente, bora enaltecer um timaço de mulheres. A copa feminina ainda tá longe de ser aclamada como a masculina. Cabe a nós fazer a nossa parte, dar audiência e comentar. E repito: eu nem lembro a última vez que vi o Brasil jogar tão bonito, com jogadoras que mandam na bola, tiram onda, controlam o jogo com desenvoltura. Tô empolgada, esperando essa taça e decretando feriado nacional nas empresas Marcie micro empreendedora individual.
Barbie, Greta Gerwig
Sim, eu sei que a essa altura ou você já assistiu e segue obcecada ou não assistiu, mas vai, ou, ainda, não aguenta mais ouvir falar de Barbie. Porém eu tenho que cumprir o meu papel e comentar que o filme foi TU-DO, apenas a maior estreia do ano. E assim, depois de ter tanta foto, trailer e notícia dando spoiler, as minhas expectativas eram altas, mas o filme excedeu todas elas.
Barbie é um filme divertido, inteligente, com um timing perfeitinho de praticamente tudo encaixar muito bem. É uma crítica/sátira escancarada ao patriarcado, ao capitalismo e ao próprio papel que a boneca desempenhou colocando padrões inalcançáveis na cabeça de meninas, pecando em diversidade, fazendo apologia a uma magreza incompatível com a vida real.
A partir daqui nós vamos com spoilers, ok, porque são tantas coisas divertidíssimas pra falar. Barbie está recheado de cenas pra rir alto. Tem o CEO da Mattel dizendo que as Barbies podem chamar ele de mãe e todas as cenas em que o plano das Barbies pra distrair os Kens consiste em explorar os clichês dessa masculinidade xexelenta. Elas fingindo que não sabem usar o computador ou que não viram O Poderoso Chefão é simplesmente maravilhoso. Não teve uma única mulher que não tenha rido na sala em que eu estava. Destaque pro momento que as Barbies estão sentadas olhando os Kens tocarem violão por quatro horas. Foi um surto coletivo na sala no melhor estilo ‘só quem viveu sabe’.
Ver tudo isso, de um jeito tão lúdico, foi um deleite. Eu fico pensando se tivesse visto esse filme ali pelos meus 14 anos, o tempo que não teria me poupado de dar moral pra homem medíocre.
Ainda que as cenas que envolvem os Kens sejam realmente divertidíssimas ao expor essa masculinidade frágil ao ridículo, o que mais me pegou nesse filme foi a relação entre as mulheres e bonecas. Elas tão ali umas pras outras, se ajudando, cuidando, salvando. Somando ao invés de competir, o contrário do que a gente costuma ver sendo estimulado nas telas e na vida. É muito potente ver esse “banheiro feminino de balada”, como muita gente chamou nas redes sociais, nas telas e acho que grande parte das ideias que estão no filme de um jeitinho aparentemente inofensivo e açucarado têm potencial pra marcar a gente e marcar a história.
O filme vai mostrar as belezas e as dores de ser uma mulher no mundo - destaque pro monólogo emocionante da America Ferreira, pro qual eu não tava nem um pouco preparada. Também vai exaltar a nossa criança interior, a fantasia das nossas brincadeiras e uma coisa que eu não sei explicar bem, mas vou tentar. Barbie se apropria do rosa, das roupas, de tudo aquilo que é tido como fútil simplesmente por ser associado ao feminino.
O mundo tá sempre pronto pra enquadrar o nosso lazer, as nossas compras, os nossos hobbies, as nossas roupas no rótulo do fútil. O caminho pra não ser julgada nessa régua, mas ser julgada por outras tão perversas quanto, é tentar negar essa feminilidade, se aproximar do único caminho “certo”, um que a gente nunca vai chegar a alcançar: ser um homem cis hétero branco. Então que delícia foi ver esse mundo artificial pastel e as ruas do mundo real tomadas de pessoas de rosa na fila do cinema, do metrô, atravessando a rua. Um baldão de pipoca rosa - aqui em Barcelona não tinha e eu fiquei arrasada - e qualquer blusinha, caneca, boneca que cê possa querer vir a ter.
Pra além das críticas que a gente pode e deve tecer a como se condiciona o feminino - e o filme também faz isso -, tem toda uma vivência, uma memória, alguns afetos e nostalgias que a gente não precisa se desfazer. Que a gente pode compartilhar. E se fortalecer. Pra subverter o que não funciona. O feminino tem força. E tem espaço pra leveza, pra diversão, pra tudo aquilo que alguém quis colocar no guarda-chuva do supérfluo. Até porque ninguém questiona o cara de camiseta de herói, colecionador de boneco, que sai de casa com um martelo do Thor pra ir ao cinema, o colecionador de carro, de relógio caríssimo, etc.
Aqui tem um reels da" @shoshmaria que fala bem disso, partindo da pergunta “Crescer é deixar pra trás coisas infantis?“. Acho que vale muitíssimo o seu play. Ainda na temática, aproveito pra deixar um link lá do blog sobre alguns mitos que aprendemos e nos afastam de usar cores. Vá que seja o empurrãozinho que faltava pra você se vestir cada vez mais de você.
Foram essas as principais coisas que reverberaram por aqui ao assistir Barbie - tô doida pra ver de novo, inclusive. Filme do ano sim. Pra não dizer da década, porque é só 2023, mas seguramente será um dos.
E você o que achou do filme? Reiterando que eu tô sempre pronta pra receber o seu comentário, e-mail, mensagem no Instagram. Isso aqui fica muito mais legal quando a gente bate um papo.
É isso,
Nos lemos ou ouvimos em breve.
Um beijo,
Marcie